EXPRESSÃO DA MINHA ALMA
Tudo aqui é sobre mim.
Textos



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Criança Correndo na Colina


Um dia eu acordei, e um raio de sol entrava pela fresta da cortina. Senti seu calor em meu rosto, e entreabri os olhos, esperando ver o de sempre: o relógio sobre  a mesinha de cabeceira, o edredon estampado de flores miúdas, as paredes pintadas de um verde clarinho, a roupa que eu ia vestir de manhã pendurada na cadeira.

Mas ao abrir os olhos, estava em meu quarto de infância. Ao invés da roupa na cadeira, minha boneca Gabriela me olhava com seus olhos azuis de vidro; as paredes eram brancas, e o edredon, cor-de-rosa. Nas camas próximas à minha, as irmãs mais velhas  ainda dormiam pesadamente. Eu podia escutar minha mãe e meu pai conversando na cozinha, em voz baixa, para não nos acordar, e os primeiros  carros passando na rua, fazendo a curva fechada. 

Fiquei por algum tempo desfrutando daquela felicidade. 

A  pessoa adulta dentro de mim, que racionalmente questionaria tudo, estava impotente, pois sobre ela, reinava a criança que permanecera adormecida por tantos anos, e aquela criança impediu a mulher adulta e racional de se manifestar. Aos poucos, senti-me recriando sentimentos de criança, como a alegria e a inocência, enquanto as expectativas pelo novo dia cresciam dentro de mim. Levantei-me da cama em um pulo, e ao olhar-me no espelho do guarda-roupa, vi-me novamente nas proporções de meu corpo de criança. Movi pernas e braços, sentindo a velha agilidade que tinha voltado, e olhei a pele do rosto e do corpo imaculadamente lisa.

Fiquei tão feliz e surpresa, que nem tirei a camisola: fui correndo para a cozinha, onde meus pais, bem mais jovens, me deram bom dia. Era incrível ver meu pai, morto há vinte e seis anos, movendo-se de um lado ao outro, e minha mãe, já idosa, coando o café, enquanto os dois conversavam! 

Cheguei ao quintal e meus muitos cães e gatos, mortos há dezenas de anos, esperavam por mim. Abracei feliz a cada um deles, e fui brincar na velha colina, ainda de pés no chão  e camisola. Lá o vento soprava, deitando as hastes rosadas de capim melado, e o sol já vinha acima do horizonte, tingindo a paisagem de luz. Abri os braços e corri, raios de sol atravessando-me o corpo, a vibrante energia da eu-criança permitindo que eu corresse rápidamente sem cansar-me.

Na campina, o tempo estava parado. Ninguém morria. Não havia lugar para adeus e tristeza. Meus sonhos alcançavam o céu, e eram todos possíveis. Eu poderia ser o que quisesse quando crescesse: cantora, bailarina, artista de circo. Sentei-me sobre o capim ainda fresco pelos restos da noite, contemplei a paisagem, olhei o telhado de minha casa lá embaixo, onde os cães passeavam pelo quintal, e minha mãe estendia uma camisa branca recém-lavada. Deitei-me e olhei para o céu, onde um fiapinho de nuvem, ao passar diante do sol, derreteu-se aos poucos, mergulhando meus olhos em um azul límpido e total.

É claro, eu acordei.

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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 20/07/2012
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