Sonhei que dois blocos tinham caído dos meus dentes, e eu estava na pia do banheiro, cuspindo os pedaços - que eram grandes demais, bem maiores que obturações normais. Colocava tudo em um saco plástico preto, pois levaria ao dentista para restaurar. Quando eu abro a boca no espelho para olhar os dentes de onde caíram os blocos, havia apenas dois enormes buracos na gengiva. Eram negros e profundos, e a carne dentro deles parecia apodrecida.
Fiquei aborrecida porque meu dentista, sempre tão bom e atento, tinha feito um trabalho tão ruim.
Mesmo assim, coloquei os pedaços dos dentes no saco plástico e pus no bolso do casaco.
Depois, eu e minha irmã caminhávamos à noite por uma praia escura e deserta. Em volta, escombros, como se tivesse havido um maremoto ou algo assim. Pilhas e pilhas de ripas de madeira, como se pertencessem a navios naufragados, telhas, enfim, montes de coisas destruídas. Nós íamos passando por aquelas coisas. A areia era escura, cheia de pó de pedra, e havia marcas de água escorrida, sulcos, onde se via pedras de todos os tamanhos, como pedras de rio após uma enchente.
De repente, eu me vi sozinha, e comecei a procurar por minha irmã. Caminhei pela praia deserta chamando por ela. Até que cheguei a um penhasco baixo, onde havia uma pequena casa - a única construção inteira que havia na praia - bem em frente ao mar. Era azul-clara de janelas brancas, e estava perfeita, como se tivesse sido recém-pintada. Vi minha irmã limpando o terreno em volta da casa, de onde vinha a única fonte de luz de todo aquele lugar triste e inóspito. Ela também entrava na casa e voltava com os ombros carregados de madeiras velhas, que ela depositava em um canto do terreno.
Pensei na casa como um lugar para recomeçar, mas ao mesmo tempo, eu olhava a praia suja e cheia de entulho, e pensava: "Como recomeçar num lugar assim?"