SONHO BOLSA
Sonhei que estava aqui na minha cidade, e tinha um encontro com amigas com quem trabalhei há muitos anos. O encontro seria na Catedral da cidade. Entardecia, e o sol batendo na catedral deixava-a muito clara e límpida. Eu caminhava sozinha pela Avenida Koeller. Não sei porque, de repente me pareceu certo pegar a minha bolsa tiracolo com todos os meus documentos, cartões e dinheiro e colocá-la pendurada em uma árvore da rua.
Continuei andando - não fui ao encontro com as amigas - e cheguei à Praça da Liberdade, onde havia uma espécie de feira artesanal ou algo assim, relacionado a artes. Daí eu me lembrei de que não estava com a minha bolsa, e que se quisesse comprar algo, não teria dinheiro. Resolvi voltar ao lugar aonde tinha deixado a bolsa, mas de repente o lugar parecia ser longe demais para ir até lá andando, e eu teria que tomar um ônibus. Estava escurecendo.
Devido à festa, ou feira, a cidade estava lotada e o tráfego estava engarrafado. Achei que não seria uma boa ideia ir de ônibus. Só então me dei conta de que eu tinha feito uma grande burrice deixando a minha bolsa com tudo dentro pendurada em uma árvore, e que com certeza, alguém a teria roubado. Lembrei-me de que havia mais de quatrocentos reais em dinheiro, meu celular, dois cartões de crédito. Porém, apesar de saber que tinha cometido um grande erro aos olhos dos outros, eu estava extremamente calma. No momento em que deixei a bolsa lá, parecia ser a coisa certa a se fazer.
Minha interpretação: Eu ia a um encontro em uma catedral com amigas com quem trabalhei e que não vejo há anos. Decidi não ir. Não quero voltar ao passado, não quero fazer as coisas como eu fazia antes. Quero deixar ir o que já foi. Não quero uma vida dogmática e cheia de regras. O entardecer representa o meu envelhecer, e quero tomar as minhas próprias decisões -
Deixar a bolsa na árvore com meus documentos, celular, cartões e dinheiro - Sem meu celular, ninguém pode me achar ou falar comigo; sem dinheiro ou cartões não preciso e nem posso comprar, consumir. Sem meus documentos que dizem quem eu sou, eu posso ser qualquer pessoa. Posso apenas ir à feirinha de artes e passear entre as coisas, anonimamente, sem que saibam quem eu sou, olhar, apreciar a vida e o que ela oferece sem me preocupar em agradar a ninguém. A arte não tem preço, é para ser apreciada, e não comprada.
Deixei a bolsa pendurada em uma árvore - Eu amo e respeito as árvores, e adoro estar perto delas. Entrego a minha vida e tudo o que possuo e sou à segurança da árvore, ou seja, alguém em quem confio, amo e respeito. As árvores podem ser centenárias. Elas são fortes, altas, belas e caladas. Não necessitam de nada, e são o que são o tempo todo sem se importarem com opiniões alheias. Eu confiei na árvore. Deixei a minha vida lá. Deixei com ela o que é mais valioso, meus segredos e bens materiais. Deixei lá a minha identidade.
A distância para voltar - É tão longe porque na verdade, eu não queria e nem precisava voltar lá. Voltar seria fazer o que esperavam que eu fizesse. Seria obedecer as regras. Seria ter que pegar um ônibus (outras pessoas, coletivo, todo mundo fazendo a mesma coisa e indo aos mesmos lugares). E se alguém levasse embora as minhas coisas, não estariam levando nada de importante. Não estariam levando o melhor de mim. Não poderiam levar a mim.