Para mim, a casa é o invólucro do existir. O mundo é grande demais, e nele nos perderíamos se não tivéssemos inventado a casa, container individual, no qual podemos existir com mais privacidade. Algumas pessoas acreditam que a casa é uma limitação, que deveríamos sempre jogar-nos no mundo livremente e sem amarras... mas como viver totalmente sem amarras? Elas são necessárias para que não fiquemos à deriva! As estradas são sempre longas e perigosas... cansativas!
E, se porventura, a força das ondas nos levar mar adentro, em uma dessas bolas curvas que a vida nos atira, teremos sempre no coração a imagem aconchegante e segura da casa, um lugar para onde voltar, quando a tormenta acalmar-se e o mar, satisfeito, devolver-nos à praia.
A minha casa é meu lugar no mundo. Minha alma não tem fronteiras, mas precisa de um porto. Tanto quanto precisa de um corpo para interagir com outras almas igualmente encarnadas. E ao visitar outros invólucros, outras casas, eu passeio pela existência daqueles que me recebem, e pressinto nuances de seus mais caros segredos.
Só na casa sinto-me totalmente livre.
Uma casa é a proteção - mesmo que ilusória - contra todos os perigos. E se eu saio para a vida de cabeça erguida e alma lavada, é na casa que este processo se desenvolve.
A família dentro da casa - quando há uma - é uma miniatura do mundo exterior. Há dores, conflitos e risos. Há trocas de vivências e experiências. De repente, alguém pode sair pela porta da casa e nunca mais voltar.
Mesmo assim, levará consigo a imagem da casa, para todo sempre.