Mãe e menina sentaram-se no banco de madeira da praça. O dia estava lindo e ensolarado. A mãe trazia consigo um saco de pipocas que a filha já cansara de comer, então jogava os restos aos pombos. Apesar do lindo dia, a praça não estava muito cheia, pois era tarde de segunda-feira. A menina distraiu-se observando a voracidade dos pombos, e lembrou-se que às vezes também sentia tanta fome que ficava como eles, assim que sua mãe conseguia comida. Mas naquele dia elas tinham almoçado. Sentaram-se juntas no balcão do bar e comeram, e até dividiram uma garrafinha de guaraná. Portanto, estavam felizes. Assim ela pensava, mas não percebeu o que se escondia nas profundezas do olhar de sua mãe. Como poderia, aos cinco anos? A mulher sentada ao lado da menina trazia um coração pesado. Estava cansada. Brincava com os dedos de sua própria mão nervosamente. Gostaria de ter tido um pai para sua filha, e então, tudo poderia ter sido diferente. Mas um dia acordou e seu marido não estava mais lá. Esperou. Esperou. Quando finalmente compreendeu que ele não ia mais voltar, um outro dia amanhecia. Ele já vinha fazendo ameaças de deixá-la há algum tempo, e conforme sua barriga de grávida crescia, mais ele se distanciava. Mesmo antes de ir embora, ele já a tinha deixado. Ela deu à luz em um hospital público, onde chegou sozinha e saiu com o pequeno embrulho que atormentaria seu sono e gritaria de fome durante os próximos anos de sua vida. Vivia do que lhe davam. Tentou achar trabalho, mas ninguém a contratava quando ela aparecia com a menina. Menos ainda quando descobriam que sua casa era o mundo. A menina era magrinha, mas tinha pulmões fortes. Chorava alto até que ela lhe entregasse seu peito murcho. Depois que aprendeu a falar, pedia comida a cada três ou quatro horas, ranhetando quando ela não podia satisfazê-la. Elas não falavam muito quando estavam sozinhas. Na verdade, a menina aprendera a falar com as outras crianças da rua, que brincavam com ela e às vezes tomavam conta dela enquanto a mãe ia em busca de algo para comerem. O sol já ia alto no céu. A hora chegara. A mãe se levantou, e automaticamente, a menina preparou-se para segui-la. Mas a mulher sentou-a de volta no banco da praça com um empurrão firme. Ainda com a mão no peito da menina, tirou do bolso da saia um pedaço de pão e entregou-o a ela, dizendo: "Espere aqui que eu já volto para te buscar." O medo se acendeu dentro da menina, um medo que ela nunca conhecera antes. Quiz chorar, mas a mãe repetiu firmemente:"Eu volto! Prometo!" E a menina ficou sentada no banco segurando o pedaço de pão, assistindo a mãe que caminhava para cada vez mais longe. Até que ela sumiu entre a multidão. E a menina esperou.