No início do livro, o autor explica o título: Em um programa de TV dos anos 80 chamado ‘Caso verdade,’ contou-se a história de um homem que, subindo a um arranha-céu em São Paulo, fitou o sol diretamente por mais de 8 horas, querendo entrar para o livro dos recordes; bem, não sei se ele conseguiu, mas perdeu parte de sua visão.
Acho que todo poeta tem a pretensão de encarar o sol, e mais ainda: entendê-lo e colocá-lo sobre as linhas do que escreve - tarefa que pode tornar-se perigosa, pois o sol queima, arde. Pode cegar.
Ao ler o livro de Marcelo, caminhei por um universo de poemas demasiadamente humanos, francos, belos, e até mesmo, inocentes, como os poemas que vem da alma. Ele nos leva entre poemas rascantes, como ‘Absoluta Definição,’ que diz:
“Falhar é humano/Falar é insensatez/ Faltar é urbano / Fatal é a embriaguez.../ Afirmar coisas é imprudência / Afiar a faca uma necessidade/afinar o tom, quase pedância / Afrouxar a corda, uma só crueldade... / Tudo o que se define assim se é / Da forma que queremos que seja.”
De repente, nos embala em momentos de ternura, ao escrever sobre seu filho em Anjo de Carne e Ossos:
“Chegaste criando forte mutação / Muita motivação / Teus gestos ainda desinformados / Membros tão frágeis / És minha vida! / És minhas lágrimas salubres / És mais perfeito que esperávamos / És loucura no ápice das horas / /Fenômeno que rouba meu sono / /Me fazes querer muito mais da vida / Santo, lindo, coisa mais pura que já vi / Puro, frágil, anjo eitado nessa cama / Anjo de carne e ossos / Digno de muita vida / Como é bom te ver tão próximo / Teu choro, teus braços/ És santo! / És lindo! / És frágil! / És vida!”
Enfim, apreciei demais a leitura, e conheci uma nova faceta de Marcelo Braga. Na dedicatória, ele escreve: “De minhas iniciações poéticas, um presente com carinho. Espero que aprecies algo.” Difícil seria não apreciar!