Ele acordou de mansinho, olhar ainda embaçado, mas a tempo de ver a pontinha da camisola, antes que ela entrasse no banheiro. Escutou o chuveiro sendo ligado, e teve uma sensação de conforto.
Era manhã de sábado. Ele pensou, com ternura, na mulher com quem tinha passado a noite, e no quanto demorara a encontrá-la. Após cinco anos de divórcio e muitos relacionamentos vazios, já descrente de que voltaria a gostar de alguém de verdade, ela apareceu em sua vida.
Gostou imediatamente dela: a maneira de sorrir, o tom de sua voz, seu gosto para vestir-se. Estavam entre amigos em comum quando se conheceram, e ficaram trocando olhares a noite toda.
No dia seguinte, ele não pode deixar de perguntar a seu amigo quem era aquela mulher, e onde ela se escondera durante tanto tempo. Ele respondeu-lhe que se tratava de uma velha amiga de escola, que estivera morando fora do país por um longo tempo, na França, e acabara de retornar. E o melhor de tudo: solteira!
Não hesitou em chamá-la para sair. Depois de algumas noites de jantares, teatros, cinemas e conversas, finalmente dormiram juntos. Para ele, foi mais do que uma noite no paraíso: qualquer palavra seria o suficiente para estragar aquele momento completamente! Não havia nenhum adjetivo que ele conhecesse que pudesse descrever como ele se sentira. Teve certeza absoluta: era ela!
Ainda na cama, ouvindo o barulho da água do chuveiro que caía sobre o corpo que ele amara há apenas algumas horas, repetiu para si o nome dela. Soava doce em sua boca, e sentia uma espécie de cócega na ponta da língua ao pronunciá-lo.
Levantou-se da cama e foi até a cozinha, preparar um café da manhã para ambos. Assoviava, enquanto abria armários e gavetas, escolhendo as melhores xícaras, uma toalha de mesa limpa, a lata de biscoitos importados. Arriscou até uma omelete!
Ouviu quando ela saiu do chuveiro, e o barulho da mola do colchão quando ela deitou-se. Decidiu levar-lhe o café na cama.
Mas ele não sabia que ela tinha apenas sentado na cama para calçar os sapatos.
Ao chegar no quarto, segurando a bandeja, encontrou apenas o cômodo vazio, e nem sinal dela. Lembrou-se que não tinha sequer o número de seu telefone, pois os encontros que tiveram foram todos marcados pessoalmente, ao final do encontro anterior.
Teve a idéia de ligar para o amigo, e perguntar-lhe se ele não poderia dar a ele o número de telefone dela. O amigo pareceu surprêso; respondeu-lhe: "Ela viaja hoje de volta para a França! Não disse nada a você?"