Crônica baseada em uma outra, de título "Lentidão," do Recantista Moisés Cklein. Que ele a tome como uma homenagem.
DEVAGAR...
Jamais pude esquecer-me da sensação de paz que eu senti, ao acordar pela primeira vez em Tiradentes, cidade de Minas Gerais. As carroças passavam sob a janela da pousada, e os galos cantavam, convidando-nos a despertar para a vida. Sem pressa.
Devagar, podemos desfrutar melhor o dia. Um bom livro, um bom filme, um passeio a pé ou de carro. Devagar, uma vida é gerada dentro da mãe. Deveríamos tirar alguma lição destes nove meses em que passamos pelo processo de nos tornarmos 'prontos!'
Quando eu era pequena, havia um motorista de ônibus na linha do bairro onde eu morava. Seu nome era Adão. 'Seu' Adão era famoso pela sua lentidão ao dirigir. Era um homem de meia-idade, gordinho e calvo, rosto redondo e rosado, olhar tranquilo. Quando o víamos chegando ao ponto de ônibus, logo sabíamos que a viagem seria um pouco mais longa. E se tivéssemos pressa em chegar a algum lugar, pegaríamos um taxi.
Conheço uma pessoa que leva um tempo imenso para terminar uma refeição! Mesmo depois que todos já terminaram e a maioria das pessoas já se retirou da mesa (cansados de esperá-lo terminar), ele continua lá, mastigando bem devagar, desfrutando o prazer da refeição. Come devagar. E quieto.
No mundo de hoje, a lentidão é sinônimo de incompetência... que pena! Precisamos executar várias tarefas ao mesmo tempo: atender ao telefone enquanto terminamos um relatório e comemos um sanduíche; estudar para uma prova, enquanto checamos nossos e-mails, Facebook e Twitter, e ao mesmo tempo, ouvimos música e assistimos TV. Quem consegue executar várias coisas ao mesmo tempo, recebe o prêmio-rótulo de 'competente.'
Observo nos idosos uma característica rara nos dias de hoje: eles param para conversar com conhecidos na rua, e se esquecem do tempo ao fazerem isto! E se caminham ao nosso lado, e de repente, lembram-se de algum assunto que gostariam de comentar conosco, eles param de caminhar enquanto estão falando (o que deixa os mais jovens irritados). Suas histórias são mais longas e cheias de detalhes. jamais se adaptariam à pressa e superficialidade do Twitter e do Facebook!
Antigamente, os carros não tinham cintos de segurança ou air bags, mas os acidentes eram raros. Por que? as pessoas dirigiam devagar.
E assim, na pressa, vamos perdendo momentos bonitos, mensagens importantes, paisagens maravilhosas, detalhes encantadores. Vamos perdendo a vida.