Importa-me o chão onde piso,
O caminho que sigo
E que se estende
À minha frente
Sem que eu tenha pedido.
Importa-me o dia que nasce,
Assim, oferecido
Como uma dádiva
Caída do mistério
De um deus antigo
Abduzido.
Importam-me as letras que caem
Em minha folha,
Importa-me a bolha
Nas pontas dos dedos
Quando eu escrevo.
Importa-me tudo aquilo
Que tem importância:
A água na torneira,
A comida na despensa,
A flor no canteiro,
Meu rosto no espelho.
Importa-me o pano que cobre
Meu corpo do frio
Da noite, que cai
Sem dó nem piedade
Sobre minhas costas.
Importa-me o nome que assino,
Importa-me a sina da vida,
Importa-me a porta
Que abro e que fecho,
Por amor e escolha,
O orvalho na folha.
O que tu és, não me importa,
Quem finges ser,
Quem dizes ser,
A imagem obscura
Que tu configuras
O personagem sem medidas
Desmedidamente esquivo,
Ah, causas-me riso,
Mas isso não importa...