Pedrinho era um menino alegre. Gostava de jogar bola, brincar de pique, roubar goiabas na goiabeira do 'seu' Manoel e tomar banho de rio. Não era o melhor aluno da escola, mas com certeza, era o mais alegre, e conseguia passar de ano, mesmo não estudando muito. Era amigo de todos, e os professores o adoravam, devido a sua alegria sempre contagiante e à flor da pele.
Um dia, no começo do ano letivo, entraram dois garotos novos em sua classe. Eram maiores que os outros, valentões e falavam pouco. Tinham vindo de uma outra escola, e corria um boato de que tinham sido expulsos... Pedrinho os observava disfarçadamente durante as aulas, pois sentava-se logo atrás deles, e percebia que os dois não tinham muito talento para matemática ou português, e durante as provas, tentavam 'colar' dos colegas ao lado. Os meninos, com medo deles, deixavam...
Conforme os meses foram passando, os dois meninos foram ficando cada vez mais dominadores, e implicavam com os outros meninos disfarçadamente, esperando que eles reagissem. Quando isto acontecia, os dois iam até a professora com cara de anjo, e os deduravam. A professora colocava os outros meninos de castigo, defendendo sempre os dois malvadões.
É claro que isso um dia ia acontecer: Pedrinho tinha o nariz um pouco grande, e passou a ser alvo de chacotas dos dois valentões, que incentivavam os outros meninos a chamá-lo de apelidos. Os outros meninos, com medo de que os dois garotões se voltassem contra eles, obedeciam...
Aquilo foi fazendo com que a alegria de Pedrinho, antes tão contagiante, fosse minguando... passava horas sentado na beira do lago, olhando o seu nariz no espelho d'água. Até que 'Seu' Chico, um cabloco do mato que vivia por ali, aproximou-se dele:
-Ora, menino, o que é que tá te mordendo? Hum?
Pedrinho enxugou uma lágrima e respondeu:
-São uns meninos da escola... eles chegaram e começaram a fazer troça de mim... agora, até meus colegas riem do meu nariz!
O velho senhor, cheio de experiência de vida, apontou para o lago, onde ele estava pescando, e disse ao menino:
-Tá vendo esse lago, Pedrinho?
Pedrinho assentiu com a cabeça, prestando mais atenção. O velho pegou uma pedrinha, e atirou no lago, causando ondas em circunferência.
-O que foi que aconteceu, menino? O que é que você tá vendo? _Vi que o senhor jogou uma pedra no lago, que estava calminho, e causou umas ondinhas... - Isso mesmo! A gente é que nem esse lago... os outros atiram pedrinhas, e a gente se agita... eles atiram, a gente se agita... e assim vai... -Mas o que o senhor quer dizer com isso?
O velho atirou uma outra pedra, e mais outra, e mais outra.
-Se eu ficar aqui o dia todo atirando pedrinhas no lago, durante muitos e muitos anos, o que vai acontecer?
-Bem... acho que o lago vai ficar sempre agitado! -Isso mesmo! mas é só isso?
Pedrinho pensou um pouco, e respondeu:
-Bem... daqui a um tempo, o lago vai estar tão cheio de pedras, que vai virar um lago de pedras! A água vai entornar... e o lago, morrer!
-Pois então, é isso mesmo, menino esperto! Não seja como esse lago; não deixe que te encham de pedrinhas! -Mas... eu sou fraco! Não posso com eles... e se eles não desistirem? -Daí, você pede ajuda a quem puder te ajudar! Já falou com a sua professora? -Não... ela não acredita em mim. Pois você vai ter que fazê-la acreditar!
Pedrinho agradeceu ao velho caboclo e voltou para casa, pensando em uma maneira de conseguir fazer com que a professora acreditasse nele. No dia seguinte, após as aulas, ele esperou que todos os meninos saíssem e teve uma conversa com a sua professora. Contou a ela tudo o que vinha acontecendo, e pediu ajuda. Ela olhou Pedrinho nos olhos, e acreditou nele, passando a prestar mais atenção e punindo os verdadeiros culpados.
Moral da história: Ignorar provocações, nem sempre é a melhor política!