Uma casa é diferente de um lar. A casa é construída com tijolos, areia, cimento, madeira e outros materiais que, ao serem colocados juntos, vão dando forma a um sonho. Um dia, a construção termina, mesmo que futuramente, ela venha a passar por reformas e mudanças.
Mas um lar jamais ficará pronto; nele, vamos acomodando as nossas lembranças, bordando nossos sonhos nas cortinas e colchas, cobrindo nossa cama com nossos desejos, molhando nossas fronhas com as perdass que vamos sofrendo. As cores vão mudando, os móveis vão mudando, as pessoas vão e vem... e quando elas se vão, o lugar que deixam vazio jamais poderá ser preenchido; de certa forma, uma casa - digo, uma antiga, que tenha uma história para contar - é sempre cheia de todos os habitantes que viveram nela: basta ter sensibilidade para captar-lhes a essência...
Quando deixei minha antiga casa, houve objetos que não me acompanharam; permaneceram nela. e quando mudei-me para minha nova casa, encontrei garrafas antigas semi-enterradas no jardim, casinhas de cachorro há muito tempo abandonadas, quadrinhos antigos nas paredes, ferramentas de jardim no porão. Resquícios de quem passou por aqui.
Algumas destas coisas eu conservei. Porque achei que elas fazem parte do lar. Não da casa, mas do lar.
Uma lar é um local onde vamos escrevendo a nossa história, através de nossos objetos e de nossa energia. E um dia, nós o deixaremos para sempre; mas quem sabe, na verdade, se não voltaremos para visitá-lo? Existe uma forte conexão - não entre uma pessoa e uma casa - mas entre uma pessoa e seu lar.