A Biblioteca
Minha mãe gostava de levar-me para passear depois do almoço. Às vezes, simplesmente tomávamos um ônibus e íamos conhecer algum bairro da cidade. Noutras, íamos até a Praça da Liberdade, onde ela me empurrava no balanço, enquanto eu via as copas das árvores ficando próximas e se afastando...
Uma vez, ela me levou à Biblioteca Municipal, que naquela época, ficava em um antigo prédio, já demolido, onde hoje funciona o Palácio da Cultura. Antes de entrarmos, minha mãe avisou-me que eu deveria ficar em silêncio, e só falar se fosse muito necessário, e mesmo assim, bem baixinho. O prédio da Biblioteca Municipal era lindo! Lembro-me da surpresa de caminhar entre aquelas prateleiras imensas cheias de livros, e ver as pessoas sentadas às mesas, silenciosas.
Ela levou-me até a prateleira dos livros de história infantis, e deixou que eu escolhesse um. Ela também escolheu um para ela. Ficamos ali, sentadas entre aquelas pessoas concentradas, lendo nossos livros em silêncio, até que a bibliotecária anunciou que a biblioteca ia fechar - cinco horas da tarde.
Quando chegamos à calçada, o céu já começava a escurecer, e besouros nacarados voavam em volta das lâmpadas dos postes. Aquela foi a primeira vez que entrei em uma biblioteca.
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Memórias resgatadas através de um poema de Vanice Ferreira, "O Bibliotecário."