EXPRESSÃO DA MINHA ALMA
Tudo aqui é sobre mim.
Textos
 

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Nada Disso me Pertence

 

Elas vão brotando sob os fios espessos da grama Pelo de Urso que faz renda ao cedro. Quando eu dou por elas, já são árvores-bebês: pitangueiras, laranjeiras, pés de tangerina, ameixeiras, goiabeiras, amoreiras... os pássaros e morcegos, ao se alimentarem na árvore, deixam cair os caroços das frutas, ou então, depositam os mesmos no solo através de suas fezes.  Quando retiro as mudinhas, os caroços das frutas das quais elas nasceram ainda estão nas pontas das raízes.

 

Algumas eu consigo doar; mas o número de pessoas que eu conheço e que tem espaço para árvores no quintal, e que já receberam uma mudinha,  diminuiu bastante.

 

Já não tenho espaço para árvores em meu jardim. Ele é bem pequeno. Tenho o cedro, um pau-d'água, uma laranjeira, um xaxim, um ipê amarelo, um velho manacá da serra, e um ipê roxo que ainda não floriu, mas que já ultrapassa o telhado da casa, e por isso, cogitamos cortá-lo. Uma árvore assim, tão grande, e tão próxima à casa, nos dá um certo medo. Ganhamos de presente quando nos mudamos, e no entusiasmo de plantá-la, esquecemos de verificar o quanto uma árvore assim pode crescer. Por isso, pensamos em mandar cortá-lo.

 

Mas então eu olho para ele - como agora - e reparo no bem-te-vi pousado no galho, filosoficamente olhando a tarde que passa... ou o casal de rabilongas que vem quase todas as manhãs namorar neste ipê. Tenho o direito de cortá-lo? Ele não me pertence!

 

Ainda há pouco, eu retirava alguns 'matinhos' da grama e dos canteiros. De repente, me ocorreu: como eu me acho no direito de decidir o que é planta e o que é 'matinho', eliminando os da segunda categoria?

 

 

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Uma vez, eu caí e machuquei a mão. Uma pessoa que estava aqui comigo, ao ver minha mão tornar-se uma bola em questão de segundos, saiu pelo jardim procurando: "Eu tenho certeza de que vi um pé de arnica por aqui..." E eu nem sabia que tinha arnica em casa! Bem, ela pegou as folhas que encontrou, macerou-as, fez um chá forte e esverdeado e colocou tudo em uma bacia, onde mergulhei a mão machucada. Após alguns minutos, o inchaço começou a melhorar. 

 

Lembrei-me de quantos 'matinhos' iguais àquele eu já tinha arrancado, sem saber que era arnica! 

 

E enquanto escrevo, o esquilinho sobe pelo tronco do xaxim. Um beija-flor descansa no ipê amarelo, um bem-te-vi me olha do ipê roxo e três jacus pousam pesadamente sobre o cedro.

 

Não... nada disso me pertence.

 

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Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 24/04/2013
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