Não sabia ser inteira; partia-se
Sempre que alguém partia!
E ao quebrar dos laços,
Apenas a alma doía!
Ah, a impermanência
Na qual ela vivia!
Quebrava-se sempre
Que alguém partia...
A vida emendava os pedaços,
Juntava os traços,
fazendo colchas de mil retalhos,
Amarrava as lembranças
Em um triste feixe...
E ela, sozinha,
Fragmentava-se,
Cortava-se,
Quebrava-se
Em mil saudades,
Ao final de cada dia!
Ah, se ela soubesse
Manter-se inteira,
Reconstruir-se,
Costurar-se!...
Quem sabe, até mesmo
Doesse menos
Cada partida,
Cada quebrar-se!
E as memórias
Juntavam-se todas
Aos pés da moça,
Em frente ao fogo,
Sobre o tapete,
Entre as paredes,
Sob as cortinas
E as cobertas,
Na fronha lisa
Quase sem sonhos...
De madrugada,
Alguém partia,
E ela fechava os olhos
Ainda tonta de sono,
Ainda transida de medo,
Até que um dia - bem de repente
Ela partiu.