ADEUS, BONSAI!
-Posso fazer um canteiro ali atrás, Dona Ana?
-Pode sim... mas vamos ter que comprar as plantas primeiro. Não tem nada aqui.
Meu novo jardineiro, entusiasmado, respondeu:
-Depois a senhora compra. Pode deixar comigo, vou arranjar umas plantinhas por aqui mesmo, só para não deixar o canteiro vazio. Posso usar essas plantinhas aqui nesses vasos?
Havia alguns vasos de margaridas já murchas que eu compro para enfeitar o peitoril das janelas, e quando as flores morrem, troco por outras. Perto delas, estava também o meu bonsai, uma jabuticabeira que tenho há muitos anos, e que andava um tanto mirradinha ultimamente. Acho que eu não sei como cuidar de bonsais. Mas não pensei que ele a incluiria em seu projeto de jardinagem.
Concordei com ele, e fui cuidar de minhas obrigações caseiras.
Ao final da tarde, quando fui lá fora ver o resultado do trabalho, achei um canteiro bastante eclético, com diversas espécies de plantas, todas misturadas. Entre elas, o meu bonsai.
Ele plantou o meu bonsai!
Fiquei com pena de decepcioná-lo, ao responder a sua pergunta "Gostou?" Eu sorri entre os dentes: "É... ficou bom!" Enquanto isso, pensava na minha ex-bonsai-jabuticabeira.
Depois que ele se foi, fiquei pensando melhor, e achei que com certeza, a árvore preferia estar plantada no chão. Condenada a viver em um espaço limitado e anti-natural,estando destinada a ser uma árvore-anã reprimida para o resto de sua existência, a minha jabuticabeira me agradeceu - e principalmente, ao meu jardineiro. Confesso que eu mesma já tinha pensado em plantá-la no chão. As plantas de porte grande dentro de vasos me angustiam quase tanto quanto os pássaros presos em gaiolas e os cães acorrentados.
Ontem lembrei-me dela, e fui lá no fundo do quintal para ver como ela estava passando; folhinhas novas estão brotando, e parece que ela está mais calma, menos ansiosa. Trocamos um olhar silencioso, e em seguida, ela me falou das jabuticabas que estava planejando para o futuro. Pousados no muro acima dela, os pássaros aguardam, pacientemente.