É tanta coisa, tanta, todo dia!
Da mais profunda e límpida tristeza
À beira da mais louca alegria... E o sol se deita, e se levanta, Todo santo dia!
Enquanto isso, a lágrima de esperança
Escorre devagar por entre os dedos,
Formando imensos, densos, tristes rios
Da mais total e pura nostalgia!...
-Ainda bem que existe a poesia!
E é ela quem derrama, entre linhas,
O doce do alcaçuz, o fel das rinhas,
A vida traduzida em verso e prosa,
Da cega e escura noite
À singeleza da rosa!
-Ainda bem que existe a poesia!
E quando vem a chuva, em gotas lindas
Fazendo transbordar muitas saudades,
É ela quem nos salva e nos resgata:
Uma consolação de pura arte!
-Ainda bem que existe a poesia!
E quando na memória mais profunda
Insiste a dor mais forte, mais fecunda,
De repente, nos chega um passarinho,
E a mente assim se solta, de mansinho...