Presunção
É aquele último degrau,
No alto da torre,
Logo antes da queda,
É a risada sardônica,
A olhadela irônica
De quem não enxerga,
É o passo estendido no vazio
A pisada preparada
Pairando sobre a merda,
É a mania de pensar-se sempre mais,
E tornar-se sempre menos.
Presunção,
É a mania de achar-se
Sempre certo e verdadeiro,
É cobrir-se com um véu,
Ao olhar-se no espelho,
E achar demasiadamente honrosas
Todas as más intenções
E saídas jocosas
É apontar o dedo cruel e acusador
Na cara de quem esperava teu amor.
Presunção
É pintar de cor-de-rosa
As unhas sujas e rombudas,
É julgar-se o grande, o esperto, o sábio, o tal,
Enquanto, disfarçadamente,
Espalha a discórdia e o mal,
É esquecer-se do significado básico
De palavras como 'perdão' e 'humildade'
E expressões como 'boa vontade,'
E mesmo assim, achar-se o portador total
Da Divina Mensagem.
Presunção
É aquela palavrinha que nos arde
Na ponta da língua, e abre portas
À outras palavrinhas que definem iniquidade
Confundindo 'devoção'
Com 'Obsessão,'
E o pior de tudo isso, é a má-vontade
De enxergar-se à beira de um abismo iminente...
Presunção,
É a mãe que gerará, no futuro, a solidão...
Presunção, minha gente,
É aquela lâmina suspensa
Sobre uma veia que pulsa, indiferente,
Demasiadamente
Fremente.