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Não Sonhar
Já não tenho mais sonhos.
Basta-me a paisagem à janela,
Bastam-me os sinos de vento,
As cores e sons do momento.
Nada mais quero alcançar,
A não ser esse olhar
Que hoje eu tenho sobre as coisas,
O caminhar pelos caminhos que eu abri,
E ver florir aquilo que plantei.
Já não tenho mais sonhos,
Não anseio mais nada,
Tenho as palmas das mãos voltadas para o céu,
Recolho o vento, os raios de sol,
A chuva, as folhas que caem,
E nada mais arde
Nesse meu existir real!
Descansei as ambições,
Coloquei-as para dormir seu sonho eterno,
Eterno...
Entrei, voluntariamente,
Nesse inverno entre verões...
Há memórias o bastante
Que me sustentem pela vida,
Há presentes espalhados no meu espaço,
Que me satisfazem,
Que me aprazem,
Suficientes para o resto
De minha viagem...
Já não tenho mais sonhos,
E mesmo os pesadelos que me afligem
Somem, de manhã,
Na mesma fuligem da qual nasceram!
Ah, é tão bom estar assim,
Tão perto e tão longe de mim,
Sem sonhos, sem ambições,
Sem desejos de vencer, de chegar, de ser, de ver,
De ir ou de voltar!
Sem nada mais querer provar a ninguém,
Apenas contemplar,
Apenas contemplar!