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ÁGUA PARA UM POEMA
Morre tão seco o poema,
Pois já não mata-lhe a sede
A tinta daquela pena!...
Morre, silencioso e frio,
Morre sem brio ou verdade,
No abismo imenso do vazio
Morre sem qualquer saudade!
-Tragam água para o poema,
Antes que seja tarde!
Parte-se ao meio a palavra,
Ardem as chamas da pira
Na qual ele queimará...
Entram e saem de cena
O poeta e seu poema,
Tentando aplacar uma sede
Que lhe fere feito adaga,
Tentando exprimir uma dor,
Quem sabe, conter uma mágoa...
-Água para um poema,
Tragam água, tragam água!...
A noite o cobre de negro
Abraça-lhe, diz-lhe um segredo;
E o poema agonizante
Resiste ao terrível degredo
Que o poeta lhe impôs
Por pena, por dó ou por medo...
-Tragam-lhe um copo de água,
Que amenize o vil enredo!
-Água para um poema,
Que morre ao nascer do dia,
Entre rimas de agonia,
Assim que desponta o sol!
Entre as fendas dos olhos cansados
O poema enxerga um troll
Como um monstro que dançasse
Uma giga ao arrebol...
Por isso, morre o poema,
De uma sede inacessível
A qualquer água ou refresco:
De alucinação terrível!
-Água para o poema,
Tragam água, tragam água!...
Que ele siga tranquilo
Para sua nova casa!
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 03/12/2013