"Meu coração é de ouro, e o teu é de latão,
Minha vida é um livro aberto, e a tua, enganação,
Meu ventre é fértil terreno, e o teu, seco deserto,
Estou sempre, sempre certo, e tu...
"Sou bondosa criatura, só beleza, só ternura,
Minha voz é de alvorada, e a tua, taquara rachada,
Minha água vem das minas, e a tua, da cisterna...
Sou criatura elevada, e tu..."
Ah, triste ato funesto, de comparar-se e achar-se
Sempre belo, sempre certo, sempre grande, sempre aberto!
Vendo nos outros ruindade, pequenez e lama escura!
Ressaltas tua "perfeição" a fim de ocultar a feiúra
Pois a queda foi tão alta, que é melhor nem enxergar
Que quem diz que está morrendo, na verdade, quer matar!
Ah, triste comparação, sem motivo e sem razão!
Porque somos todos feitos dessa mesma substância
Que formou a cara e a alma, filhos de um mesmo Senhor
Que acreditas, a ti olha e protege, mas me esquece!
Mas não vês que o arremate que planejas não dá certo?
Tens um dos pés lá no céu, e o outro, no inferno!
E aquilo de ruim que vês sempre em minha cara
É a mesma substância que com a tua, aparas!
Não hei de descer mais baixo que tu mesmo descerias,
E a vida é ida e volta, sempre tendo duas vias...
Se quiseres comparar-te com aquilo que me aperta,
Acerta o passo, te apruma, pega o espelho e o conserta!