Crônica inspirada na escrivaninha de Ignez Freitas, e baseada em fatos reais
Um dia, enquanto minha irmã usava o tanque de lavar roupas, ela apareceu; pousou na janelinha da área de serviço e lá ficou, bem na frente de minha irmã. Passou a voar por ali, e um dia, alguém conseguiu pegá-la. Minha irmã batizou-a de Linda Inês, em homenagem a uma personagem de novela.
Linda Inês era mansa - no sentido de que deixava-se pegar facilmente, e gostava de pousar em nossos ombros. Mas tinha um temperamento feroz: certa vez, enquanto eu almoçava, ela tentou invadir meu prato, e quando eu a enxotei, ela voou sobre mim, gritando e tentando bicar meu rosto. Ah, quase me esqueço de dizer: Linda Inês era um sabiá.
Ninguém jamais soube de onde ela veio ou por que escolheu ficar morando com minha irmã.
Linda Inês parecia ter uma implicância toda especial com minha mãe. Quando ela se aproximava, Linda Inês a atacava, arrancando-lhe sangue dos braços e pernas. Um dia, ela chegou a bicar o olho de minha mãe, o que causou um pequeno derrame que deixou-a com os olhos vermelhos durante vários dias. Assim, ela passou a ficar na gaiola durante a maior parte do dia. Quando estava solta, voava para as árvores próximas, mas logo voltava, pois gostava de ficar aonde as pessoas estavam.
Ela era espaçosa, briguenta e de personalidade forte. A única pessoa que ela aceitava totalmente - chegando até a dormir junto com ela - era a minha irmã. Linda Inês passou a ser um membro da família, e era querida e aceita, apesar de suas birras e ataques.
Certo dia, quando minha mãe estava sozinha em casa, apiedou-se de Linda Inês ao vê-la triste na gaiola (apesar das rusgas entre as duas) e soltou-a. Acho que o sabiá ficou tão agradecido que passou a seguir minha mãe pela cozinha... até que em certo momento, minha mãe virou-se para caminhar da pia até a mesa, e não vendo Linda Inês junto aos seus pés, acabou pisando nela sem querer... foi o fim de Linda Inês, que morreu minutos depois.
Lembrando-me dela agora, recordei também outros animais que surgiam do nada e nos adotavam como donos. Alguns ficavam conosco até morrer, enquanto outros desapareciam misteriosamente, como o gato Bello - um angorá preto imenso e lindo que um dia apareceu lá em casa - e a gata Jezebel, toda colorida de bege, amarelo, branco e preto, e muito brava. Ela adorava dormir no nosso colo, mas se nos mexêssemos, ela fincava-nos as unhas nas pernas!
Sempre que olho para trás eu vejo que em todos os momentos de nossas vidas em família, houve animais. Lembro-me de todos eles e de seus nomes, e cada um tinha sua própria personalidade, gostos e manias.