A roseira deu botão. Vejo que é preciso varrer as folhas secas, que se acumulam sobre o gramado. É preciso também trocar a água dos beija-flores, e colocar frutas no comedouro dos pássaros. Recolho no chão uma flor branca, que caiu da árvore do vizinho. O dia já amanheceu, mas no inverno, o sol começa a aparecer por aqui após as oito da manhã, então tudo está coberto de orvalho. Olho para a mata lá adiante da casa, e vejo alguns jacus fazendo festa entre os galhos das árvores. Os bem-te-vis espargem segredos na manhã silenciosa.
Surpresa: meu ipê roxo começa a dar, pela primeira vez, vários galhinhos de tímidas flores! O ipê amarelo, coberto de botõezinhos cabeludos, aguarda setembro, quando sempre se cobre de vida.
Penso no homem dos ipês amarelos, o escritor Rubem Alves, que se encontra enfermo. Li mensagens de sua filha pedindo que rezássemos por ele. Sinto-me triste porque um de meus escritores favoritos possa estar deixando este mundo, mas ao mesmo tempo, eu me lembro dos ipês amarelos e seus ciclos: após os galhos tornarem-se totalmente nus, ele floresce. As flores caem após alguns dias, então é preciso que aproveitemos o espetáculo enquanto ele dura. Em seguida, começam a rebrotar as folhas, até que no próximo ano, começa tudo outra vez... e é assim com a maioria das árvores. É a vida e seu ciclo. Até os ipês amarelos, um dia, morrem... mas antes, cumprem seu destino de cobrir-se de flores e encantar a vida de todos os que passam por eles; e é exatamente isto que Rubem Alves fez para seus leitores, e continuará a fazer, pois a beleza de seus livros ficará para sempre entre nós. Suas mensagens continuarão a levar aprendizado e encanto a todos os leitores, e mesmo daqui a muitos e muitos anos – quem sabe, séculos – todos saberão quem foi Rubem Alves.