Textos
Aqui, alguns poemas com pouquíssimas leituras, publicados no Recanto há algum tempo...
A Lágrima Tríplice
A cada lágrima, seu lenço.
Mas há uma que pende
E engorda, e cai,
E volta a formar-se
Sem descanso.
Lágrima tríplice,
Aquela que nasce
Não dos olhos,
Mas dos glóbulos,
Decanta-se do vermelho
E torna-se puro cristal
Que nunca, nunca
Pára de jorrar
Na fonte do olhar.
"Tu os alimentaste com o, pão das lágrimas e dás de beber lágrimas tríplices" - Salmo 80, versículo 6
SEI
Sei que ando bem longe,
Distante de tudo,
Os olhos nos rostos,
Mas vendo outros mundos,
Sei que estou por aqui,
Mas sempre adiante,
Perdida no tempo,
Me perco no instante.
Sei que às vezes não escuto
Se solicitada,
Por vezes, me calo,
Pensando no nada...
O passo estancado,
A vida parada,
Um olho entreaberto
E o outro, fechado.
Perdoa-me o tempo
Em que perco tempo,
Perdoa-me o toque
Às vezes vazio,
Sei que ando tão longe,
Mas nunca te esqueço,
É que ando pensando,
Me olhando do avesso...
Chapeuzinho de Sapo
Chapéuzinho de sapo,
Branca perfeição
No meio do mato.
Os fios de grama
Servem de moldura
Completando a trama.
Só delicadeza...
Da umidade fria
Vem tanta beleza!
Pena que não dura,
Sob a luz do sol
Tristemente murcha...
Pensamento
Há um rio
Que passa
Pela minha porta;
Escuto seus passos.
Nas noites de lua
Ele chora,
Reflete o céu
Mas não o toca.
Há um rio
Que passa
E no inverno,
Congela de frio.
Há um outro rio
Que de mim deságua
E que se mistura
A esse rio.
COMA
Uma alma que cai,
E fica pendurada
A um fio de teia...
Suspensa no ar,
Ela balança
Sobre o abismo,
Um prisma de luz
Aguarda, paciente,
A sua hora...
Medo dos Santos
Tenho medo dos santos
E seus olhares mansos,
Palavras demasiadamente doces,
Ocultos quebrantos!
Debaixo das auréolas,
As rodas giram, giram...
Tenho medo dos santos
E seus dedos longos,
Rijos, pontiagudos,
Suas bocas que arredondam-se
Em "Ohs" mudos...
Tenho receio
De seus estigmas,
Suas orações sussurradas,
Seus dogmas e enigmas.
A quem rezam?
Tenho medo dos santos
E de suas maledicências
Disfarçadas em bênçãos!
Tanta perfeição, tanta bondade,
Tanta abnegação e civilidade!...
Sua mania
De sempre oferecerem
A outra face!
Santos
São psicopatas.
NÃO É NADA!...
Essa nuvem nos olhos
Não é nada!...
Vem da chuva fininha,
Vem da tarde nublada...
Esperanças caíram
Na calçada.
Não é nada, esse medo
Que por hora me abraça!
Talvez seja, em segredo,
Uma dor que não passa...
Mas não há de ser nada,
Pois a noite se alonga,
E os fantasmas e as sombras
Amanhecem...
Depois, me esquecem.
Por isso,
Não é nada.
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 06/11/2014
Alterado em 06/11/2014