Olhando da janela de minha sala de aula, vi as plantas do meu jardim sob o sol, murchas e tristes. Não há água para molhá-las. Minha pimenteira, cheia de pimentas ainda verdes, parecia a mais triste de todas. Os camarões desanimados no canteiro nem atraíam mais os beija-flores. Senti uma imensa pena dessas criaturas inocentes, vítimas do descaso dos homens com o meio-ambiente. Pensei nas milhares de espécies fadadas a desaparecer pelos mesmos motivos.
Ontem, no começo da noite, caiu por aqui uma chuva bem fininha. Não foi como a que a previsão do tempo prometera. Nem chegou perto! Ouvi alguns trovões distantes, o céu tingiu-se de chumbo, ventou um pouco... e o que deveria ter sido um aguaceiro acabou se transformando numa rápida e fina chuva. Senti dó de minhas plantas no jardim mais uma vez.
Mas hoje de manhã, quando abri a janela, tive uma surpresa: elas estavam recuperadas. A chuva fina bastou para que elas recobrassem a força da vida. A pimenteira reergueu-se, e havia um beija-flor nas flores do camarão.
Entendi que às vezes, mesmo em situações de extrema dor e desesperança, é sempre possível recomeçar, ainda que aquilo que temos para continuar seja muito pouco; uma chuva fina no meio do que parece ser um imenso deserto poderá ser o suficiente para que nos reergamos e continuemos a caminhada. E o oásis que precisamos pode estar a apenas alguns passos, se não desistirmos. E jamais chegaríamos até ele se não fosse o incentivo da chuva fina.
Já passei, como quase todo mundo, por momentos desesperadores na minha vida. Já tive vontade de desistir, e sentei-me no chão de hospitais me sentindo completamente impotente. Já saí correndo covardemente porque não tive a força e a coragem suficientes para enfrentar algumas situações que me pediam calma. Já perdi a cabeça e gritei de desespero. Mas aí alguma coisa me fez erguer os olhos e olhar além da situação na qual eu estava inserida, mostrando que ainda havia beleza, que o céu continuava calmo com suas estrelas, brilhando igualmente sobre a alegria e sobre a dor, sobre a calma e sobre o caos, e que ele estaria sempre lá, como disse Richard Bach em sua crônica "O Sempre Céu."
Às vezes a vida nos leva a encruzilhadas, e decidir sobre o caminho parece a maior tortura! A melhor coisa que eu descobri, é que quando estamos vivendo esses momentos não precisamos decidir nada; podemos ficar ali e esperar que um dos caminhos ressecados nos mostre algum sinal para segui-lo. Se tivermos paciência, poderemos ver que mais cedo ou mais tarde, uma tímida chuva começará a cair sobre uma das estradas, e que as plantinhas ao longo do caminho a receberão e começarão a reviver. E é por ali que deveremos seguir.