EXPRESSÃO DA MINHA ALMA
Tudo aqui é sobre mim.
Textos




As Palavras Dela na Minha Boca

 
Trecho do livro "Tudo Vai Bem Mas me Sinto Mal, de Lucia Canovi
 
 
"De acordo com os gurus da Nova Era, seríamos nós que criaríamos de A a Z nossa própria realidade, controlando o desenvolvimento de nossa existência a um nível  sobrenatural e metafísico. Segundo eles, seríamos nós que, antes de nascer, decidiríamos ter nariz arrebitado ou pés chatos. Escolheríamos desembarcar nesta ou naquela família porque saberíamos que com aqueles determinados pais aprenderíamos a ter compaixão, ou tocar berimbau, ou acertaríamos nosso Karma. A única coisa que nos impediria de saber que absolutamente todas as circunstâncias de nossa vida foram escolhidas por nós, seria o esquecimento. Seríamos não apenas águias que se creem galinhas, mas seres  todo-poderosos usufruindo de uma liberdade ilimitada, cuja chave foi perdida. Em outras palavras, deuses amnésicos sofrendo de complexo de inferioridade. 
 
Francamente...um deus cuja existência começou como uma gota de esperma, que vai ao banheiro várias vezes ao dia, que precisa de sabonetes de lavanda e desodorantes para não cheirar mal, que fica velho e caquético, tem medo de aranhas, de trovão, do fisco ou de outra coisa qualquer, tem que se alimentar sempre e não é nem mesmo capaz de evitar a morte, é mesmo um deus?"




Este texto diz exatamente aquilo que eu às vezes tento colocar em palavras e não consigo. Após a Idade Obscura, as pessoas mergulharam em um mar de ilusões tão profundo, que passaram a enxergar-se como deuses e senhores da existência. Um salto repentino entre os que viviam mergulhados na superstição e na escuridão e que nada podiam, e os que 'enxergaram finalmente a luz' e tudo podem: "Basta querer, desejar e fazer pensamento positivo e tudo chegará até você."  Ou como disse aquela moça naquela musiquinha irritante: "Tudo o que eu quiser, o 'cara' lá de cima vai me dar."

Eu também tive essa minha fase de "Você pode tudo o que quiser." Ela veio logo após um período infeliz durante o qual, a fim de sair do fundo do poço, comecei a ler e absorver - quase sem questionar - tudo o que caía na minha frente. Bem, a maturidade me trouxe uma visão diferente. Descobri , entre outras coisas, que:

-A gente não pode tudo. O universo não conspira a nosso favor (ou contra nós). Ele apenas é. Nós apenas somos. Se eu quiser conquistar alguma coisa, tenho que me empenhar e acreditar, mas saber que posso falhar, que esta possibilidade existe, e não significa fracasso. Não significa que eu não mereço ou que estou sendo castigada por alguma coisa que eu fiz na minha existência passada. Apenas não deu. É partir pra outra.

-Deus não está nem aí para as nossas pequenas amarguras e nossos pequenos desejos. Ele não vai ajudar ninguém a conseguir o carro do ano, a bolsa de marca ou a cura para uma doença grave se a própria pessoa não se empenhar naquilo que deseja. E mesmo assim, com empenho, fé e vontade, quem manda na estrada não somos nós. Não dirigimos pela estrada, é ela que nos leva aonde temos que chegar. O volante é apenas uma ilusão para facilitar as coisas. 

-Como na recente história do vestido que a alguns parece branco e dourado, enquanto a outros parece azul, estamos cercados de ilusões e visões distorcidas. Quem ler um pouquinho, só superficialmente, sobre Física Quântica, verá que não sabemos absolutamente nada, e que muitas - talvez a maioria - das coisas que enxergamos simplesmente não são como as vemos. E afinal, quem está certo e quem está errado? Como podemos ter tanta certeza assim?

-Duvido de qualquer pessoa ou de qualquer segmento religioso que ofereça uma explicação coerente para tudo o que nos cerca, servida de bandeja à "população menos esclarecida" gratuitamente por algum mestre ou guru. Existe muita coisa nessa vida para as quais não conhecemos e talvez jamais venhamos a conhecer as respostas. E mesmo que perguntar não ofenda e seja divertido, as formigas jamais compreenderiam o que é enxergar através dos olhos de uma girafa - portanto, uma girafa inteligente nem perderia tempo tentando explicar.

-Ando aprendendo que discutir pode ser esclarecedor e divertido, mas que raramente alguém mudará o pensamento de outro, não importam quais argumentos ele ofereça. Cada um vai enxergar apenas aquilo que o olho está pronto para ver.

-Pode ser que tudo aí em cima esteja errado.



 
 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 05/03/2015
Alterado em 05/03/2015
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