Acredito na beleza da vida, e acredito na arte. Mas que o objetivo de um artista seja, não o de destacar a si mesmo através de sua arte, mas de destacar sua arte através de si mesmo, colocando-a sempre à sua frente. O artista é um canalizador da arte, e não o contrário.
Pois ninguém fica para a posteridade; apenas a arte. Talvez fique um nome sob uma pintura, escultura, texto ou música, mas poucos saberão quem foi aquele artista no futuro, e menos ainda, alguém se preocupará em saber. Percebo muitas vezes que os mais jovens desconhecem quem foram os artistas mais antigos. Muitas pessoas abaixo de trinta anos não tem ideia de quem tenha sido Maquiavel, embora usem a expressão 'maquiavélico' para referir-se a alguém. Durante minhas aulas, às vezes falo de algumas pessoas famosas do passado recente, e meus jovens alunos não sabem quem estas pessoas foram, embora possam reconhecer alguma música, filme, livro ou outro trabalho artístico feito por eles. E algumas destas pessoas ex-famosas que menciono, ainda estão vivas!
Todo sabem quem escreveu Romeu e Julieta, mas alguém sabe, realmente, quem foi Shakespeare? Tudo o que sabemos dele está nos livros de história! E os livros de história matam a essência particular dos personagens.
Ninguém mais se lembra de como era Shakespeare, pois aqueles que conviveram com ele - sua família, amigos, conterrâneos - estão todos mortos. Não ficaram as rugas do seu rosto, o cheiro de sua pele, a maneira como ele olhava o céu de manhã, a voz, o riso, o choro. Sua essência morreu junto com ele, e aos poucos, foi apagada pela borracha do tempo. Sua obra ainda permanece, mas seus personagens não são ele.
O mesmo se dá com todos os artistas de todos os tempos. Ainda mais nos dias de hoje, onde a fama é artigo de consumo, onde pessoas aparecem e desaparecem da mídia com a rapidez de um trovão. Hoje, conhecido e celebrado; amanhã, totalmente relegado ao anonimato. Não vejo ninguém nos dias de hoje que eu possa imaginar como sendo reconhecido daqui a cinquenta anos.
Há as obras, e as melhores permanecerão por mais tempo. Mas seu destino é o mesmo: serão esquecidas.
Cedo ou tarde, tornar-se-hão ruínas pelas quais alguém um dia passará e indagará: "Quem viveu aqui? Quem cantou esta música? Quem pintou este quadro? Quem ergueu estas pilastras?" E mesmo que as ruínas sejam escavadas, e se encontrem os esqueletos e objetos daqueles que lá viveram, apenas a morte terá sido encontrada. Nunca mais os risos, os passos, as vozes, os olhares, os pensamentos, as palavras, os cheiros, o por do sol nos telhados daquelas casas e ruas que antes fervilhavam de vida.
O destino de tudo é a morte e o esquecimento, e eles se deitam sobre as pessoas e suas criações como a poeira sobre os móveis de um cômodo que não é mais usado.
Texto publicado em meu blog "EXPRESSÃO", em 11/09/2013