Entrego ao jardineiro as plantas que compramos ontem. Juntos, discutimos os melhores locais para plantá-las. Ontem, ao caminhar pelo mercado enquanto as escolhia, deparei com algumas que pareciam estar ali já há algum tempo, ressecadas, a terra tão estorricada que parecia grãos de pedra. Sinto pena das plantas que são colocadas no mercado e jamais recebem um pouco de água. Acabam morrendo de sede, ninguém as compra. São seres vivos; custava alguém jogar nelas um pouquinho de água?
Peguei os vasos com as plantas que escolhi e coloquei no carrinho. Penso que estas tiveram mais sorte, pois neste exato momento, estão lá fora, sendo plantadas na terra fresca. Espero que elas possam viver e que as flores possam desabrochar sem medos.
Fiquei pensando - quem escreve sempre pensa demais sobre as coisas, e às vezes, acaba fazendo associações meio absurdas entre elas -: Às vezes, a gente fica lidando com a vida da mesma maneira que os funcionários do mercado lidam com as plantas: colocamos as coisas lá na prateleira, e as esquecemos. Murcham os sonhos, murcham os planos daquelas viagens que há anos gostaríamos de fazer, murcham as intenções de melhorar, mudar, aprender algo novo. As plantas secam e morrem, e quando finalmente nos lembramos delas, vamos até os vasos nas prateleiras e só encontramos folhas ressecadas. Esquecemos de aguar as coisas mais importantes de nossas vidas, e fica tarde demais para voltar atrás. Sejamos mais cuidadosos com nossas sementes e mudas. Sejamos mais dedicados àquilo que queremos plantar.