As flores já nem se lembram
Dos tempos em que eram sementes
E viajavam nos ventos.
As flores nascem,
Abrem-se, florescem,
Fenecem ,
São esquecidas
E se esquecem.
FOLHAS
Secas, crepitam
Ao serem arrastadas pela brisa.
A calçada fica cheia de sons
Crocantes
Quando a gente pisa.
PEDRAS
Sempre estiveram ali?
Sempre estarão?
Quem nelas se senta, nem pensa
No que elas são...
AVES
Trazem o mundo
Visto de cima
Na retina.
Corações quentes, pequeninos,
Resistentes,
Que batem com as asas.
ÁRVORES
Madames centenárias,
Milenares senhoras.
Já viram tudo,
- Já viram tudo, mas preferem calar-se.
A lâmina do lenhador
É ameaça que sempre arde.
CHUVA
Deita suas gotas
Na corola da flor,
Desce pelas folhas,
Beija a terra seca
Que se abre, e a recebe
Entre rios de prazer
E poças de dor.
FORMIGAS
Brincam com as cigarras
Que tocam suas guitarras
Em convivência calma.
As formigas carregam o pão do corpo,
E as cigarras criam o pão da alma.
BORBOLETAS
Deslizam nos ares
As cores das asas,
Não tem casas,
Os casulos quebraram-se
Ao dar-lhes à luz.
Manchas de cor pousadas nas plantas,
Na cerca, na escada,
No beiral da casa.