Quando eu era criança, eu escutava todo mundo falando que o mundo deveria acabar de vez no ano 2000. Lá pelos idos de mil novecentos e setenta e poucos, o ano 2000 era algum lugar improvável em um futuro distante que talvez nunca chegasse. Lembro-me de um dia em que minha irmã - uma delas - chegou em casa na hora do almoço, dizendo que o mundo acabaria quando o planeta Marte se chocasse com a Terra. Naquele momento, eu, que nem sequer sabia o que era um planeta, imaginei uma bola caindo do céu e se espatifando de encontro ao solo de terra batida do nosso quintal. Não entendi como aquilo poderia fazer o mundo acabar. Nem sabia direito o que significava 'acabar.'O mundo deixaria de existir, e ficaríamos todos suspensos no espaço?
Bem, mas só por curiosidade, perguntei a minha mãe: "Mãe, quantos anos eu vou ter no ano 2000?" Ela fez as contas e respondeu: "35. Por que?" Não respondi, e fiz outra pergunta: "35 é nova ou velha?" Ela, que já passava dos 40, sorriu e me respondeu que 35 era mais-ou-menos. Fiquei calada, perdida em meus pensamentos, imaginando que se, afinal de contas, eu fosse uma velha de 35 anos, não tinha importância nenhuma morrer esmagada por Marte.
Mas o ano 2000 chegou, e o mundo não acabou. E vi que 35 anos não era velha. 50 anos sim, era velha. Por causa de um sonho que tive naquela época, fiquei achando que eu morreria aos 42. Porém, cheguei aos 42 vivinha da Silva, e nem sinal da Dona Morte. Infelizmente, aos 46 anos, perdi uma pessoa em minha família que era muito jovem, e compreendi que a morte era bem democrática quanto àqueles a quem ela escolhia para levar, não tendo preconceito de raça, classe social ou idade.
De vez em quando eu me olhava no espelho e me perguntava: "Por que ele, e não eu?" Bem, uma pergunta idiota para a qual não existe resposta... mas como eu ia dizendo, 50 anos é que deveria significar ser velha, e bem velha.
Hoje completo meus 50 anos de vida, e mais da metade do que tenho para viver já se foi. E completar 50 anos de idade me fez perceber que não é nada diferente de ter 49, 48 ou 47. Olhando uma de minhas fotos de três ou quatro anos atrás, vejo que nem mudei tanto assim, a não ser o corte de cabelo... e que sentir-se velha é uma questão de escolha.
Às vezes eu me sinto como se tivesse 120 anos, e mesmo quando eu era ainda bem jovem, na casa dos vinte, sempre me sentia bem mais velha do que eu realmente era, não sei porque. Mas outras vezes eu penso no quanto continuo gostando das coisas que eu tanto gostava, e que não mudei tanto assim nesse aspecto.
Meus ídolos envelheceram. Ver Brian May e Roger Taylor, membros do Queen, na apresentação do grupo no Rock in Rio deste ano, serviu para lembrar-me de que a velhice também é bastante democrática, e chega para todo mundo.