De Celso Panza, um e-mail que recebi e que não poderia deixar de partilhar aqui, já que seu conteúdo é sensato, inteligente e esclarecedor.
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Mensagem:
O homem nasce, aspira oxigênio e incontinenti chora para mostrar que está vivo. Quer atenção, ser gostado e assim inicia a sua jornada. Iniciou sua exposição.
E a vida é exposição, exclusiva e pura exposição. Nesse ato, nascer, começa a comunicação com os outros que vivem e habitam esse planeta. Muitos depois de certo grau de consciência própria e de número reduzido querem fugir da exposição. Se retiram do convívio social massificado, são os monges. Mas, continuam ainda uma exposição.
Qual?
Dessa singularidade, ser um monástico. Difícil inclinação, rareada, absolutamente incomum.
Quando se chega perto de um desses seres, monges, há uma certa reverência pela renúncia assumida e praticada. A materialidade foi colocada de lado, os prazeres todos. Há uma superioridade em se desgarrar das felicidades do corpo. Sem dúvida há uma transcendência no monge e quem transcende ainda vivo é especial, e expõe essa especialidade.
Estão mergulhados na alma os monges. Uma vida anímica “intra muros”. Um outro mundo, distante do nosso. Há, contudo, uma exposição visível nesses que irradiam um certo mérito pela atitude de se descolar plenamente de tudo que a sociedade comum oferece. Há uma evidente exposição, a de seus valores estarem acima do mundano. A dizer, “sou diferente”. E são, está exposta a escolha.
Se há uma exposição nesses seres especialíssimos por sua especialidade em se retirarem, imagina em quem escreve. Neles, monges, estaria oculta a exposição, mas expõem-se – já visitei monastérios – registre-se que exclusive anacoretas não estão expostos, estes sim, distantes da exposição, sem acesso algum, em cavernas nas montanhas e sós.
Tudo que se faz é exposição, na vida particular ou pública, expõe o que se é ou você finge ser, mas expõe-se. Acima de tudo, expõe-se a verdade e a mentira, a falsidade ou sinceridade, valores positivos ou negativos. E o mais interessante, ninguém se esconde do que é, mais cedo ou tarde se descarta o véu da mentira. A exposição começa a deixar evidente o que se é. Por qualquer veículo de comunicação, dos olhos à escrita, severa exposição esta,
Conheço as pessoas no primeiro contato, de tanto lidar com o público, mas escrever é, querendo ou não, mostrar o que se é, pela exposição nas entrelinhas, mesmo atrás das cortinas que se quer como barreiras.
Acho graça e cômico, pessoas que conheço na internet que escrevem em sites, têm blogues e dizem o que não são, o que nunca foram, o que não sentem, o que fizeram sem fazerem, e como funciona seu relógio humano. Funciona muito mal, metabolismo encrencado entre o egoísmo a si mesmo e aos outros, pessimamente caminhante, com lastro em egolatria sem existirem os melhores valores, ausentes e rejeitados, incrivelmente alijados . Uma mentira só. E se pensam isso e aquilo, e granjeiam afagos, homenagens, etc, merecem uma certa piedade.
Tudo na vida do ser humano é exposição, basta analisar qualquer movimento exterior, mas escrever é a exposição imediata, máxima e rápida para conhecimento de quem escreve e assim se expõe, plenamente. Muitos enganam, não por muito tempo. Vai se percebendo o blefe, por isso digo que escrever é terapia, para os bons, que disseminam e espalham o que é bom, e se satisfazem nessa missão, depressivos e maldosos, que se sublimam enganosamente dos complexos e frustrações, egoístas e mentirosos que contaminam o mundo com suas sombras pecaminosas e desprezíveis. Para todos há um caminho na exposição, de luz ou de cinzentas nuvens, de alegrias ou tristezas, de reconhecimento ou de chacotas e risos mesmo de seus próximos. Viver é se expor.
Obrigada, Celso!