Ah, eu amo carnaval! O barulho dos carros de som estourando nossos tímpanos quando passamos na rua, o cheiro de urina nas esquinas e cantinhos da cidade, as pessoas achando que no carnaval pode tudo - e passando a mão nas mulheres ,- ligar a TV procurando por algo legal para assistir e deparar sempre com um repórter aos berros mostrando flashes do carnaval de rua em Recife / Salvador / Rio / Chapecó / Quintos dos infernos! Se eles selecionassem apenas uma cena e a colocassem no ar toda hora, ninguém notaria a diferença.
Ah, como eu amo o carnaval! Praias lotadas, engarrafamentos, arrastões, calor infernal, gente bêbada, axé tocando a todo volume, e "Vamulá galera! É issoaí! Batendo na palma da mão e rebolando até o chão (afinal de contas, carnaval também é funk)!"
E acima de tudo, os milhões de camisinhas que o governo distribui no carnaval - usando o dinheiro dos contribuintes, é claro - para que pessoas que eu nem conheço possam fornicar à vontade nas esquinas das ruas e dentro dos carros que ficam parados à porta das nossas casas. Mas tudo bem, é carnaval!
E o carro alegórico esmaga uma porção de gente, mas tudo bem, vamos tirar esse sangue e essa gente esmagada da pista porque o show tem que continuar, e enquanto isso, a platéia não arreda pé, todo mundo doido para dar entrevista na Globo e dizer o que viu, esmerando-se nos detalhes sórdidos.
Daí eu me lembro que aqui em Petrópolis não tem carnaval há alguns anos. E então, eu respiro fundo, e tenho a sensação de que eu realmente tenho sorte na vida.