agora eu vou falar de ausência
Agora eu vou falar de ausência,
Pegue uma cadeira,
Apague as luzes,
Desligue o celular.
Escute o som do vento,
Que não para de soprar
No túnel da minha vida.
Escute os ecos fendidos
Dos passos que se afastaram,
Escute o trovão que ruge
Quando o coração se quebra
Se espatifando no chão!
Não tente me consolar,
Não tente dizer palavras
Pensadas na contramão
Que possam fazer sentido!
Só senta aqui e escuta,
Me empresta esse par de ouvidos
Para que então tu me entendas,
Para que então compreendas
Quando eu te falo de ausência!
Não quero solidariedade,
Nem quero que sintas dó;
Só quero mostrar-te a ausência
Que ficou perambulando
Por esses meus corredores
Arrastando suas dores
Por onde antes se ouvia
O que o coração cantava,
Os passos de quem partia,
Os passos de quem chegava!
Agora eu vou falar de ausência,
Preciso que ouças bem,
Porque já estou cansada
De tanto explicar porque,
De tanto mostrar as pontas
Do laço que foi cortado,
As pontas esfiapadas
Das fitas já desbotadas
Que já não prendem mais nada!
Porque ninguém se importou,
Foi-se embora o que já tinha
Ido antes, só que antes
Ninguém nunca nem notou.
As palavras se calaram,
Porque ninguém mais falou,
As distâncias aumentaram
Porque naqueles caminhos
Ninguém nunca mais passou,
Porque não abriram a porta,
E as batidas ressoaram
E depois, caíram mortas.
Agora eu já falei de ausência.
Pode sair, vá embora,
Porque não me fazem falta
Presenças que se ausentaram
E ficaram para sempre
Por trás desse alto muro,
Palavras jogadas fora,
Que ficaram sem respostas,
A não ser pelo desprezo
Daquilo que foi doado
E não achou ressonância.
Falei de ausência e distância,
E então, agora eu me calo,
Porque não mais me interessa
Falar do quer que seja;
Pois meu coração conhece
Um sentimento que é raro,
Que não cabe no teu peito,
Pois teu coração furado
Deixou passar sem ser visto
E sem ser valorizado.
(É que às vezes, a distância
Entre as almas é tão grande,
Que nem a saudade a alcança).