Estive fora por uns dias, realizando um grande e muito antigo sonho: conhecer a Itália! Foi uma experiência transformadora visitar a terra do meu avô e dos meus bisavós. Cada momento foi vivido com muita intensidade, e inicio uma série de crônicas e poemas para contar sobre as coisas que vi, senti e vivi. Para ficar na lembrança. Porque escrever e fotografar são as melhores formas de se lembrar de tudo.
Começo com esta crônica:
PARA QUEM NÃO ESCREVI
Estes textos não foram escritos para quem já viajou muito e sabe mais do que eu. Não pretendo afirmar isto ou aquilo a respeito de um povo e de um lugar que mal conheci, pois foram apenas quinze dias de viagem – dois dos quais ficamos em casa, nos recuperando: eu, de uma forte gripe, e meu marido, de uma inflamação no tendão.
Estes textos não são para aquelas pessoas que a gente encontra nos aeroportos, junto as quais ficamos até meio-envergonhados de demonstrar nossa surpresa e maravilha diante de coisas que, para elas, são simples e rotineiras; enquanto o sol nasce sob as asas do avião, em cores maravilhosas, e nós, os simples mortais comuns que não viajam muito, tiramos fotografias e damos suspiros de admiração, tais pessoas dormem tranquilamente. Enquanto ficamos ansiosos por passar no free shop e comprar perfumes, elas passam por nós de cabeça erguida em direção a um destino certo e com hora marcada. Enquanto paramos para olhar os cartazes nos aeroportos, ou lemos as plaquinhas sob os monumentos em cidades históricas, estas pessoas olham seus relógios e afundam os rostos nos jornais.
Estas pessoas, cidadãs do mundo, passam rapidamente pelas lojinhas de souvenirs, e sentam-se nos cafés das cidades históricas com ares entediados lendo ou conversando, enquanto nós passamos por elas fotografando tudo e carregando sacolas cheias de comprinhas.
Eu não escrevi estes textos para quem já esteve na Itália muitas vezes, ou para quem já conhece o mundo todo. Tais pessoas com certeza os acharão simplórios, equivocados ou quem sabe, pretensiosos. Escrevo para lembrar, em primeiro lugar, das coisas lindas que pude ver, e do meu antigo sonho realizado. Escrevo porque não quero esquecer. Escrevo para que as imagens das fotografias que eu obtive – mais de duas mil imagens – não percam seu significado, e que eu possa olhar para elas e me lembrar do que vi, do que estava sentindo quando as obtive, de onde eu estava, quem estava comigo, do que eu aprendi.