Durante nossa curta estadia na Itália, não ficamos em hotel. Alugamos um pequeno apartamento em Milão, o que nos obrigou a fazer coisas que turistas que ficam em hotéis geralmente não fazem: ir ao supermercado, cozinhar, jogar o lixo fora, pedir informações na rua, usar o transporte público. Todos os lugares que visitamos foram alcançados através de caminhadas, trem ou metrô – apenas quando fomos à Toscana alugamos um carro, devido à distância. Isso nos deu uma ideia de como o povo realmente vive por lá, e do quanto nós aqui no Brasil estamos distantes deste ideal.
Não sou do tipo que gosta de voltar de uma viagem falando mal do Brasil, criticando tudo e exaltando as qualidades do país visitado, porque sei muito bem que quem viaja como turista não vê certas coisas negativas que só quem mora lá sente. Não existem lugares perfeitos em país nenhum do mundo.
Porém, é impossível não fazer algumas comparações, e estas são algumas das coisas que pude observar:
-TRANSPORTE PÚBLICO - O transporte público é muito eficiente. Todos os meios de transporte público, incluindo os ônibus, vão anunciando as paradas em alto-falantes e painéis colocados dentro deles de forma estratégica; assim, sabemos exatamente onde estamos. Pensei na minha cidade, e no quanto isso facilitaria a vida dos turistas que circulam por aqui. Os ônibus e trens são limpos, muito limpos! Estão em ótimo estado de conservação, e os usuários cuidam para que continuem assim (diferentemente daqui). Tudo anda no horário, sem atrasos ou falhas. Se eles afirmam que o metrô passará daqui a dois minutos e trinta e um segundos, isso realmente acontece. As pessoas entram e saem organizadamente, sem empurrar.
-MOTORISTAS X PEDESTRES – Assim que chegamos, ao atravessar uma rua, observei o seguinte fato: não havia carros à vista. Uma senhora parou junto à faixa de pedestres, e logo após outra, e mais pessoas foram fazendo a mesma coisa, sem atravessar a rua. Coloquei o pé na faixa, perguntando ao meu marido: “Por que elas não atravessam? Não há carros se aproximando”! Ele me segurou discretamente, respondendo; “Veja! O sinal está fechado para nós”. E assim que o sinal abriu, todos atravessamos. Quando há sinal de trânsito, os motoristas os respeitam, assim como respeitam as faixas de pedestres. E quando não há, os motoristas param o carro e dão a vez a quem está atravessando a pé.
- BARES, RESTAURANTES E LANCHONETES – Todos aguardam a vez, sem tentar furar a fila. Certo dia, entrei no que eu achava que fosse o final de uma fila, ficando atrás de uma senhora que estava sendo atendida. Não reparei que a fila era do outro lado. Assim que ela saiu e tentei me dirigir ao atendente, ele muito polidamente me explicou que atenderia primeiro o senhor ao lado, que tinha chegado primeiro. Fiquei com muita vergonha, e me desculpei. Nos restaurantes, não existem os dez por cento compulsórios por prestação de serviço, e apesar de dizerem que aqui no Brasil o pagamento é opcional, ele sempre é incluído no final da conta.
-ALIMENTAÇÃO – Antes de viajar, tinha lido em um site que os italianos sempre preferem tomar água e vinho durante as refeições. Chegando lá, prestei atenção e vi que esta é a mais pura verdade! Não vi refrigerantes, sucos, conhaques ou outras bebidas em nenhuma mesa. Logo que nos sentamos, o garçom logo pergunta: “Vão querer água”? Também constatei que a comida dos italianos é quase sem sal, com poucos temperos, e não provei alho ou cebola em nenhum prato que comi. Eles preferem ervas. O pão é mais durinho, menos saboroso que o daqui, mas quando a gente come, não se sente pesado ou fica com azia depois. A manteiga (chamada “burro”) é branquinha e também quase não leva sal. O molho de tomate é tomate puro, e não fica tão pegajoso na massa quanto o daqui. A pizza é fininha feito papel e tem poucos ingredientes. Prefiro a daqui... a massa é difícil de cortar, mesmo sendo fininha.
As porções são pequenas... a primeira vez que comemos em um restaurante, quase tive um ataque quando o garçom trouxe meu macarrão e só tinha um pinguinho no meio do prato! Mas fui saboreando os pãezinhos, tomando água e vinho, comendo a massa devagar... e quando terminei, estava satisfeita! Ainda sobrou espaço para o inevitável gelato.
A “insalata” (salada) não pode faltar, e muitas vezes, ela é tão grande, que podemos compartilhá-la, ou comê-la como prato único.
No mercado, as verduras e legumes vêm lavadas e embaladas em bandejinhas, e custam mais caro do que aqui. Mas os queijos mais finos, que aqui podem custar uma verdadeira fortuna, lá são muito baratinhos, e eu me refastelei! As sacolinhas de compras são cobradas: $0,50 centavos de Euros cada. A maioria das pessoas levam as sacolinhas de casa. É comum ver donas de casa empurrando aqueles carrinhos de tecido nas ruas. Fui uma delas durante algum tempo!
Entrar em um açougue em Milão me fez sentir vergonha dos açougues daqui! São tão limpos, que não se vê sangue, resíduos de qualquer espécie (normalmente encontrados nestes estabelecimentos) ou sequer se sente cheiros. Tudo brilha. Tudo é milimetricamente organizado em vitrines. Tudo é imaculadamente limpo. Os funcionários usam branco. Suas mãos e unhas estão limpas. Enfim... lembrei-me de um açougue aqui em Petrópolis (já fechado) onde a gente precisava tapar o nariz quando passava por ele. E dos caminhões estacionados nas portas dos açougues, reabastecendo-os de carne (carcaças penduradas, as portas abertas pegando poeira da rua, os uniformes imundos dos funcionários que não usam máscaras ou luvas. E o cheiro...