Estavam todos espalhados pela estação de trem de Veneza; alguns em lojas e outros (os homens) resolvendo as passagens de volta no final do dia. Comecei a andar por ali sozinha, tentando sentir o ambiente (sempre gosto de sentir os lugares onde estou) até que cheguei à saída da estação, parando no topo de uma escadaria larga, e vi Veneza pela primeira vez.
Meus olhos se espalharam sobre ela, e eu quase engasguei com tanta beleza. Meu marido tinha me pedido para não ir muito longe, mas eu não resisti: de repente, eu estava descendo as escadas e começando a tirar as primeiras fotografias.
Me encantei por uma gaivota, que mansa, chegava aos pés das pessoas e ficava ali, parada, sem nenhum medo. Mas é claro, uma menininha não muito bem educada chegou e começou a chutá-la, espantando-a. Olhei para a mãe de cara feia, mas ela só fez cara de paisagem e riu da “gracinha” da menina. Fui para o outro lado, e respirei fundo aquele dia, tentando esquecer o ocorrido. Afinal, eu estava ali para muito mais do que aquele triste evento isolado.
Ainda fiquei por ali durante algum tempo, me esquecendo de tudo o mais em volta, e quando finalmente dei por mim e voltei à estação, meu marido já estava nervoso, a minha procura.
Depois de tudo resolvido para a nossa volta de trem, começamos a nossa caminhada por lá, e a cada coisa que eu olhava, cada pedacinho de paisagem, cada curva e espelho d’água, a única coisa na qual eu pensava era a velha canção de Charles Aznavour que dizia que Veneza era triste.
Veneza não é triste. É um lugar que espelha o céu o tempo todo. As pessoas que caminham por lá estão todas felizes, rindo, tirando fotografias, passeando, se encantando com tudo o que podem ver. As gôndolas, tão tradicionais, são um espetáculo à parte: há alguns gondoleiros que se denominam “cantantes”, e eles cantam enquanto conduzem as pessoas.
No início, eu não queria ir no passeio de gôndola, pois tenho um medinho de barcos e de água devido a um incidente na Ilha de Marajó há alguns anos. Quando entrei, a gôndola balançava muito, e me agarrei à borda; mas conforme avançávamos suavemente pela água, eu relaxei e me deixei levar. E vi que é tudo igualzinho vemos nos programas de TV e fotografias: as pessoas realmente deixam suas roupas penduradas às janelas, e tudo é muito, muito antigo.
No avião, assistindo a um documentário sobre Veneza, descobri que as estruturas da cidade estão ameaçada pelas ondas provocadas pelos barcos e grandes transatlânticos carregados de turistas, mas que existem campanhas de moradores tentando bloquear a entrada dos mesmos, e incentivando as pessoas a conhecerem a cidade a pé. Andar a pé é muito melhor! Temos tempo de sentir o lugar, falar com mas pessoas, entrar em bares e restaurantes, lojas e ruazinhas escondidas.
Há alguns anos, dizia-se que os canais de Veneza não cheiravam bem; meu marido percebeu isso apenas nas passagens mais fechadas e escondidas, e eu, como estava gripada, não senti cheiro nenhum, mas teria sentido se fosse muito ruim, pois tenho um nariz bem sensível.
O que eu vi, foi a água verde refletindo o céu.
Fico me perguntando se um dia voltaremos a Veneza. Eu gostaria muito! Veneza não é triste: é mágica! Adoraria passar uma noite por lá. Quem sabe, um dia?