Não gosto muito de escrever votos de Feliz ano-novo porque eu acredito que o final de um ano e o começo de outro não significam nada. Acho que a qualquer momento podemos estabelecer metas e mudanças em nossas vidas e relacionamentos, e uma simples data não quer dizer nada, nem tem poderes mágicos. Mas vale a reflexão desta época, onde todos parecem estar estabelecendo novas metas.
Ontem, ao vir para casa de carro com meu marido, ameaçava uma chuva forte, e mesmo assim, uma porção de gente - a maioria, gordinhos - corriam e resfolegavam na Barão do Rio Branco, os rostos vermelhos pelo esforço, a fim de perder peso. Tenho cá as minhas dúvidas sobre esse tipo de coisa ser realmente boa para a saúde... acho que o que nos deixa saudáveis não pode causar tanto desconforto, esforço físico e frustração. Pensei no estresse que estava sendo exercido sobre aqueles joelhos, articulações e corações... aquela cor vermelha no rosto e aquelas veias pulsando nos pescoços não podem ser saudáveis.
"Mais uma resolução de ano-novo que não vai até o dia 2 de janeiro", pensei. Por isso mesmo, eu não faço planos nem promessas nesta época. Pensando melhor, promessas eu já não faço há muito tempo, pois não gosto de prometer coisas e não saber se poderei ou desejarei cumpri-las mais tarde.
O cardiologista me disse que eu preciso perder peso. Segundo ele mesmo, não tenho nenhum problema de saúde, aparentemente, mas mesmo assim ele me veio com um número: doze quilos.
Ao sair do consultório, eu olhava para as mulheres da minha idade que passavam por mim na 16 de Março - a maioria delas aparentando ter o mesmo peso que eu - e pensava: não vou estabelecer esta meta. Não vou estabelecer meta nenhuma. Sou apenas mais uma na multidão, há muito tempo sem a menor possibilidade de concorrer ao Miss Brasil. Aliás, eu nunca estive entre as mulheres que tinham esta possibilidade.
Por que passar fome a fim de perder doze quilos? Para agradar ao meu médico? Para agradar à sociedade, que exige que as mulheres sejam como as bonecas Barbie? Para ter mais saúde, se isso eu já tenho? Não quero ter mais saúde. A que eu tenho me basta. E um dia eu vou morrer.
Se for o caso, quando eu adoecer eu pensarei nesses doze quilos. Por enquanto, não dispenso um sorvete ou uma boa macarronada. Gosto de ir a um restaurante para comer, e não para sentar-me à mesa de mau-humor e com cara de tacho, pedindo apenas uma salada verde enquanto os outros comem de verdade. Não sou do tipo que deseja viver até uma idade avançada. Espero morrer bem antes disso. Para mim, todo mundo já vem com prazo de validade, não importa o que a gente coma, desde que não nos tornemos obcecados por comida, fazendo dela uma compensação para as nossas frustações - isto sim, não é nada saudável.
Bem, mas eu não me sinto frustrada a respeito de nada, e não tenho nenhuma vocação para qualquer tipo de compulsão; como quando tenho fome. Sou alguém que está envelhecendo. Não gosto da ideia, mas aceito por falta de opção.
I'm sorry, doc. A fita métrica, a tabela e a calculadora que o senhor usou para medir o tamanho do meu apetite não me dizem respeito.
Quando eu morrer, tanto faz que eu esteja magérrima ou cheinha , pois meu último pensamento não será "Pelo menos, meu caixão será leve." Ele será: "Ainda bem que eu comi aquela macarronada!"