Bandeirinhas verdes e amarelas sendo penduradas de um lado da calçada até o outro. Nós, crianças, sentados no chão, as recortávamos e colávamos nos barbantes. Os adultos que passavam paravam para ver, e alguns vinham com ofertas: "Olhem, eu tinha em casa essa lata de tinta amarela!" "Podem ficar com o plástico verde." "Esta bandeira é da última Copa. Podem pendurá-la."
E nós pendurávamos todas as bandeiras, pintávamos os muros de verde e amarelo e fazíamos aquela festa... às vezes, havia o concurso da Rua Mais Bonita, promovido pela estação de rádio local.
Na hora do jogo, eu me lembro que a rua ficava totalmente vazia, mas a cada grito de "Gooool!!!" as pessoas iam às janelas gritando e acenando umas para as outras, comemorando.
E se o Brasil vencesse... ah, aquela carreata indo em direção ao centro da cidade, todo mundo feliz, buzinando, carregando bandeiras, para nos reunirmos e comemorarmos a vitória. Naquele dia, ninguém mais trabalhava, e no dia seguinte, a avenida estava coalhada de pessoas vestidas de verde e amarelo.
Mas até isso nos tiraram.
Tiraram-nos tudo: a esperança, a fé em um futuro melhor, o sentimento de patriotismo. Esta está sendo uma Copa do Mundo amarga. Assisti até gora a apenas um jogo, e vi o mesmo desânimo nos jogadores de futebol. Parece que não existem motivos para que eles joguem com raça; afinal, quase nenhum deles vive no Brasil - foram vendidos a times estrangeiros, onde recebem verdadeiras fortunas. Não os culpo; qualquer um no lugar deles faria a mesma coisa. Cada um vai para onde se sente mais valorizado. Porque aqui, nada mais é valorizado: não damos valor aos nossos atletas, nem às nossas crianças ou aos nossos profissionais.
Sinto uma pena enorme de tudo isso. Sinto pena porque somos um dos países mais lindos do mundo, de melhor clima, aquele, onde "Tudo o que se planta, dá." Pena que ultimamente só a corrupção tem sido plantada.