Título -The 100
Ano produção 2014
Dirigido por Antonio Negret Bharat Nalluri Dean White (II) Ed Fraiman Jason Rothenberg John Behring John F. Showalter Mairzee Almas Matt Barber Milan Cheylov Omar Madha P.J. Pesce Wayne Rose
Quando comecei a assistir a esta série apocalíptica da Netflix, confesso que fiquei decepcionada com os três primeiros episódios. Mas com o tempo, ela foi melhorando a cada capítulo, tornando-se mais complexa à medida que os fatores psicológicos dos personagens vinham à tona.
Após um apocalipse nuclear causado por um robô, um certo número de pessoas passa a viver em uma arca no espaço, local onde permanecem por quase cem anos – até que os efeitos da radiação diminuíssem a um nível tolerável. Dentro da arca, as normas são rígidas, pois visam a sobrevivência da maioria. Um crime pequeno, como roubar um frasco de remédio para dar ao filho doente, é punido com a morte.
Um grupo de cem presidiários adolescentes, cujos “crimes” aqui fora seriam considerados como travessuras normais de adolescentes, são escolhidos como cobaias para serem mandados de volta à terra a fim de testar as condições de vida. Lá, eles descobrem o que é necessário para sobreviver em um ambiente hostil, enquanto conflitos começam a dividir o grupo em pequenas facções. Logo, Clark, uma das meninas, assume a liderança e tenta unir o grupo novamente. Novas regras são criadas, e as punições que eram consideradas exageradas na arca, passam a vigorar entre eles; afinal, a sobrevivência da maioria é o mais importante, e aqueles que violam as regras podem ser banidos ou mortos.
O interessante da série, é que toda vez que algum deles toma uma atitude mais drástica, é imediatamente apontado pelos outros e acusado de desumano; mas com o tempo, aqueles que os acusam também se encontram diante de situações extremas, nas quais precisam reagir de maneira extrema e até mesmo, cruel.
Um teste: até aonde somos capazes de ir para sobreviver? O que pode ser considerado ético / não ético em um ambiente hostil? Como lidar com as perdas pessoais, que se acumulam ao longo da existência, sem enlouquecermos e nos tornarmos vingativos? Seríamos capazes de matar alguém que amamos, apenas para evitar que ele tivesse uma morte lenta e terrível nas mãos dos nossos inimigos, e mais tarde, nos unirmos a esse inimigo contra um outro ainda maior e mais forte?
Alianças são criadas e quebradas; os personagens são testados e obrigados a fazerem escolhas terríveis a cada momento. A todo momento, o telespectador se pergunta até aonde somos humanos. Se arranhássemos a nossa superfície brilhante, esta que exibimos quando em tempos de paz e aparente normalidade, o que encontraríamos sob ela poderia nos chocar. Assim, vivemos na nossa arca aparentemente civilizada, sob nossas máscaras estereotipadas, evitando a qualquer custo o encontro – ou o confronto - com os nossos verdadeiros eus.
Há algumas falhas na produção - apesar de não entender absolutamente nada de física ou química, percebi que os personagens, ao final da temporada 4, saíam pelo mundo usando seus trajes anti-radiação e, ao voltarem à base, eram abraçados pelos companheiros ainda usando os trajes, sem que ninguém sofresse qualquer dano e sem qualquer tipo de descontaminação.
O que eu senti a todo momento enquanto assistia às quatro temporadas de The One Hundred disponíveis na Netflix, foi inquietação. A série tirou-me de meu lugar confortável, e eu gostei disso. A todo momento, eu me colocava dentro das situações vividas pelos personagens, e me surpreendia descobrindo que eu talvez tivesse feito pior que eles.
Ou quem sabe, não teria sido uma das sobreviventes: ao invés de lutar, escolheria ter morrido logo, para evitar a dor de viver o tempo todo sem nunca poder fechar os olhos de maneira relaxada e tranquila antes de adormecer profundamente.