Nos comportamos como se fôssemos viver para sempre.
Compramos, vendemos, fazemos escolhas, pagamos, devemos...
Nós só somos inteiros todo dia primeiro de cada ano, ao abrirmos a rolha;
É quando nós sonhamos.
Vêm marços chuvosos e maios gelados, agostos com ventos e dores, setembros com nuvens e flores...
Verões tresloucados, outonos cinzentos calados...
E tudo começa de novo, a mesma peça, alguns novos atores...
Nós somos os mesmos, mas mudamos sempre:
O que antes era deleite, torna-se a nossa maior dor.
Vêm e vão as pessoas, vêm e vão os lugares, vêm e vão os amores - mas ficam as dores.
Às vezes eu paro, me olho e pergunto: pra quê tanto estudo?
Por que tantas roupas, e pratos, e discos, e livros, e copos e computadores?
E velas, e flores, cadernos, canetas, sapatos, echarpes, colares, e quadros?
Pra quê tantas coisas, pra quê tantas coisas?
Vivemos como se fossemos ficar para sempre,
Nem percebemos o tempo que chega e nos transforma em criaturas...
...Fantasmagóricas
Que arrastam correntes por entre as enchentes de coisas compradas,
Lições aprendidas, lições ensinadas, palavras roubadas e outras caladas
Agarradas às barras de nossas etéreas saias!
Nós aprendemos tanto, e quando nos vamos, não sabemos nada:
Nem sequer para onde, nem mesmo o instante, nem mesmo a origem,
Se é o começo ou o fim da jornada.
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