Textos
A Memória das Estátuas
Estão todos alinhados,(Alguns, de braços dados)Olhos presos nas colinas
E além delas.
Refazem todo o caminhoPercorrido, ao chegaremA esse lugar tão ermo.
Não sei do que eles se lembram,Ou de quem se esqueceram.Saberão dizer os nomesQue um dia eles tiveram?
Parecem estátuas eretas,Caladas e misteriosas,Como as da Ilha de Páscoa.
Não sabem de onde vieram,Ou se alguém virá busca-los.A terra na qual eles vivemÉ toda feita de memóriasAlheias às suas vontades.
Sonham em serem esquecidos,Sonham muito com o tempoEm que serão varridosDesta terra adormecida.
Às vezes, me pego pensandoNas suas vozes distantes,Nas peles cheias de marcasQue só quem olhou de perto, Realmente conheceu.
Nas pupilas dilatasQue eles tinham quando riam,Se assustavam ou sofriam...
Eu me lembro da alegria,Também lembro da tristeza,E do quanto eu não queriaEntre nós, essa distânciaQue pouco a pouco se abria.
Mas eu penso no alívioQue seus últimos suspirosConcederam à minha dor.
Me lembro de toda penaQue senti, por tanta vidaQue um dia, foi amor.
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 14/05/2019