Acho que a felicidade constante não é possível; ela é interrompida muitas vezes por fatos tristes ao longo de uma vida: perdas, mortes, decepções, dificuldades em geral. Mas podemos sim, ser felizes a maior parte do tempo quando cultivamos uma vida interior rica. Existem bons livros para serem lidos, filmes interessantes a serem assistidos, cursos que podem abrir novas janelas – mesmo que não ofereçam perspectivas profissionais, e sim de crescimento pessoal – lugares a serem conhecidos. E muitas vezes, tais lugares estão há apenas quinze minutos de distância, e não é difícil ou caro chegar até eles. Por exemplo: moro em Petrópolis desde que nasci, mas de vez em quando, pegamos o carro e seguimos por trilhas desconhecidas que nos levam a lugares exóticos que nos surpreendem.
Se alguém se sente triste ou irritado a maior parte do tempo, é porque tal pessoa não está bem consigo mesma. Quando alguém se torna implicante, vigilante e comentarista da vida alheia, fazendo questão de expressar-se de forma grosseira a respeito do que lhe cerca, tal alma está doente e aborrecida, e necessita de cura.
Penso muito na velhice e no envelhecer, pois é para lá que eu me encaminho neste momento. Não quero ficar assim, uma velha rabugenta, do tipo que fura a bola das crianças quando ela cai no jardim, arranha os carros das pessoas que estacionam próximo à minha casa ou fica o dia todo por trás de um muro tomando conta da vida alheia para ver quem chega e quem sai, se a grama do vizinho está verde ou onde ele está colocando seu lixo antes da coleta passar.
Existem pessoas que, por morarem em um local há muito tempo, acham-se donos da rua, e pensam que podem determinar limites para quem entra e quem sai. Deus me livre de ser assim! Dentro do meu portão existe um mundo rico e variado onde eu não apenas existo, mas vivo: cuido da minha casa, leio bons livros, assisto a bons filmes, escuto música, recebo algumas pessoas que gosto, dou minhas aulas. E fora dele, existe uma vastidão de lugares a serem conhecidos, e vou fazendo isso na medida do possível.
Envelhecer não precisa significar tornar-se amargurado, crítico e infeliz. E quando estamos infelizes, poderíamos ao menos poupar os outros, não querendo que eles sejam tão infelizes quanto a gente. É uma questão de bom senso, empatia e humanidade.