Confesso
Eu erro, berro, espanto os astros,
Desfaço os laços, caio no abismo
Me despedaço, mas me refaço,
Arranco à unha a falsa tinta
Dos falsos mastros.
Viver é um passo a cada dia,
Uma alegria, um cataclismo,
Doce mormaço sobre mãos dadas
Que prenuncia um desenlace
Anunciado.
Clara passagem, amarga via,
Um triste riso de um triste rosto
Dentro de um rio, cujas correntes
Levam aonde não se iria
Se fosse escolha.
Eu erro o alvo e acerto a flecha
Naquilo mesmo que eu nem sabia,
Vejo o palhaço fazendo graça
Mas me concentro na alegoria
Sob a pintura.
Pois o que vale, pois o que fica
Depois de toda essa aventura,
É a mente leve, coração calmo,
E a sanidade que resistir
À essa loucura.