Os Escolhidos de Deus
Era uma postagem no Instagram, feita por um site de espiritualidade que afirmava estarmos passando por momentos de provação propícios à reflexão. A postagem também ressaltava a importância de não nos deixarmos levar pelo pessimismo e pelo alarmismo das redes sociais. Tudo excelente.
Até que fui ler os comentários.
Uma mulher afirmava mais ou menos o seguinte: “Estou aproveitando o período da quarentena para cuidar de mim: medito, faço caminhadas, vou à praia e à academia e procuro me cercar apenas de mensagens positivas e edificantes, elevando a minha vibração para que nem eu, nem a minha família sejamos atingidos por esse mal, que não passa de uma criação planejada dos governos mundiais a fim de estabelecer uma crise mundial”. O administrador apoiava, dizendo: “Isso mesmo, somos seres de luz, o otimismo vai nos ajudar a ficarmos protegidos”!
Não consegui me calar. Deveria, mas, se eu tivesse me calado, eu não seria eu.
Argumentei: “Caminhadas? Academia??? Não são férias, é uma quarentena! Quarentena é para permanecer em casa!
E a mulher respondeu: “@anabailune2, tenho certeza de que eu e minha família estamos todos protegidos tanto física quanto espiritualmente deste mal. Não estou sendo imprudente, só não estou me deixando levar pelo pânico. Tudo não passa de uma teoria da conspiração”.
Só me restou arrematar a conversa: “Que Deus te dê muita saúde e felicidade. Mas essa simples conspiração está matando milhares de pessoas ao redor de todo o mundo”.
Às vezes não dá para argumentar. Pessoas que se sentem imunes devido ao seu “Alto nível vibracional.”; pessoas que acreditam que quarentena é a mesma coisa que férias, e saem por aí, enchendo bares, praias e avenidas; pessoas que acham que na próxima semana tudo voltará ao normal, quando, na verdade, ainda nem chegamos na metade. Está previsto pelo Ministério da Saúde que pelo menos setenta por cento da população – eu, você, o vizinho - quem sabe, incluídos – se contaminará. E mesmo que não tenha graves efeitos sobre mais de 82 por cento de nós, afetará e poderá matar pessoas fragilizadas: idosos, cardíacos, diabéticos e pessoas com doenças graves, como câncer, entre outras.
Hora de conscientização. Se não pudermos ajudar, que pelo menos não fiquemos no caminho.