QUANDO VOCÊ FOI EMBORA
Quando você foi embora,
Eu fiquei ali, parada,
A boca entreaberta,
Incapaz de dizer o que você esperava,
E não era “Adeus.”
Quem sabe, quisesse de mim uma palavra
De aceitação, consolo ou perdão?
Alguma coisa que te livrasse da culpa
De me impor a tua ausência – solidão?
Você virou as costas e partiu,
Mas não sem antes
Parar no alpendre, olhar para trás
E quem sabe, pensasse também
Nos anos vividos juntos
Que não teríamos mais?
Achou que eu fosse pedir que ficasse,
Queria que eu chorasse?...
Quando você foi embora,
Compreendi que agora eu estaria sozinha,
Que a vida era minha, afinal,
Que as horas seriam muito mais longas,
As noites, mais frias,
E que eu aprenderia a ter que conviver
Com a sucessão de dias e dias
Sem os ruídos dos teus passos,
Sem a chave na fechadura,
-Ah, funesta urdidura do destino!
Foi-se embora um menino aventureiro,
Mas que se esqueceu de olhar-se no espelho
E reconhecer o homem feito,
Não viu que as novas roupas não caiam bem,
Que o novo corte de cabelo era inadequado,
Pegou pela mão a moça ao lado
E foram-se ambos viver uma história
Que seria breve, estranha e inglória.
Quando você foi embora,
Querendo que eu te pedisse para ficar,
Hesitando com as malas no chão, `a porta,
Pensando que eu estaria morta,
Achando, quem sabe, que fosse preciso
Que eu te fizesse um discurso, clamando por siso,
Você sequer olhou direito
E enxergou, lá no canto,
O meu sorriso...