Na verdade, ela quase abortou aquela crônica; mas ela acabou nascendo, fora do tempo, fora do contexto e totalmente louca. Passou rasgando o útero, nascendo à fórceps, enquanto ela, sentada, tentava dar sentido a tudo aquilo.
Finalmente, a crônica sangrou sobre o papel. Mas qual era o assunto? Quando a gente escreve, é preciso um tema. Então ela decidiu falar sobre os dias corridos, as noites mal dormidas, a pandemia, o lançamento quase secreto do seu livro, as coisas que ela vinha fazendo e que davam sentido à sua vida. E a crônica foi se desenhando, deixando entrever que a maior verdade da sua vida, seu maior sentido, era chegar ao final de cada dia com a sensação de missão cumprida. Sua vida era a crônica, o conto, o poema.