A VIDA CONTINUA
Lágrimas caindo com as gotas sobre a terra preta, lá, onde ele tinha ficado para sempre, a palmos de profundidade, sob a laje.
Janete permanecera após todos irem embora. Sob o guarda-chuva preto, ela tentava imaginar como seria dali em diante: viver sem Teo. As pessoas a tinham abraçado brevemente, murmurando palavras inúteis em seus ouvidos: “Descansou... pobrezinho, sofreu muito.” “Está com Deus agora.” Houve também quem dissesse, em tons de arrogante suposta sabedoria: “A vida continua, você tem que ser forte.”
E então, cada um voltou às suas vidas, pois era assim que tinha que ser.
Ela mesma, em outras ocasiões, também havia dito aquelas palavras e abraçado pessoas de cujo sofrimento ela só pensara em ver-se livre o mais rapidamente possível, porque velórios são sempre um enorme aborrecimento. Eles nos tiram do ritmo normal de nossas vidas, interrompem nossas atividades e nos colocam em situações constrangedoras: o que dizer?
Janete não sabia como dizer adeus a Teo; como poderia despedir-se dele, se metade de sua vida tinha sido ao seu lado? O que faria do resto dos seus dias, meu Deus? Que vida era aquela, que todos prometiam a ela que continuava?
Ela fechou o guarda-chuva deixando-se encharcar, e caindo de joelhos sobre a lápide, depositou ali seu último beijo e palavras sussurradas que ninguém ouviu. Então, caminhou vagarosamente em direção à saída e à rua movimentada, onde crianças sorridentes lotavam os pontos de ônibus após a escola, carros buzinavam e lanchonetes, mercados e bares lotados repetiam: a vida continua.
Perdendo-se na multidão, Janete e sua dor anônima desapareceram em meio à vida que continuava.