Já andei mais da metade do caminho que Deus me destinou. Já vi muitas coisas, escutei muitas coisas, vivi muitas coisas. Porém, nunca passei, em toda a minha vida, por tempos tão absurdos. Nunca vi tanta gente totalmente equivocada berrando sandices em redes sociais – e avançando feito leões famintos nas gargantas de qualquer pessoa – velho, criança, mulher, gay ou homem – que ouse discordar da sua pseudo sabedoria. Parece que tudo se resolve no grito: basta chamar de burro, quando faltarem argumentos convincentes, e qualquer um se considera vencedor do debate.
Se sentirem que estão perdendo chão, vale a pena convocar mais alguns trogloditas-bem-informados-e-cheios-de-sabedoria para arrasar e esmagar de vez com o opositor.
Existe também a tática de, quando em um grupo, isolar o contestante, fazer cara de paisagem enquanto se entreolham com olhares de “eu-sei-de-algo-que-você-não-sabe, tadinho, como você é burro”, e começarem a tratar o contestante como um retardado mental, adoçando a voz e quase desenhando no ar as palavras ao falar com ele, como a gritar silenciosamente: “BURRO!” E chamam isso de ‘empatia.’
Há também aqueles que criam perfis fakes – sem fotos, sem endereços, sem nomes – criam dezenas, centenas deles, para que possam usar do mais chulo linguajar, enquanto despejam em cima do contestante todo o ódio que lhes vêm na alma.
Não sei qual das táticas é mais desprezível.
Por mim, vocês venceram. Tenho o meu próprio mundinho aqui, não preciso do mundo que vocês estragaram. Podem ficar com ele. Chapinhem na lama e no esterco que vocês mesmos remexem, colham das ervas daninhas que vocês plantam e enfeitem com elas o seu mundinho, comam da merda que vocês estão excretando. Eu desisto. Não vou mudar a cabeça de ninguém – aliás, já fizeram isso lá atrás, e fizeram muito bem feito. É tarde demais para vocês. É tarde demais para nós.
Felizmente, já cheguei aos 55 anos, e não tenho mais muito tempo por aqui – quem sabe, mais uns vinte, vinte e cinco anos. Só posso dizer que lamento muito pela colheita que vocês terão lá na frente, pois ela será exatamente de acordo com as sementes que estão plantando. Tenho muita pena dos que estão nascendo e crescendo nesse mundo abjeto que vocês estão criando para eles.
Vão lá bater panelas, protestar contra a única pessoa que está tentando mudar esse chiqueiro no qual o país se tornou, e não se esqueçam de criar muitas hashtags mimizentas. Xinguem, vomitem escárnio e ofensas, esmaguem a liberdade de expressão daqueles que pensam diferente de vocês, e depois, vão lá nos seus perfis fakes – sim, fakes, porque mesmo os que têm fotos e nomes se escondem atrás da hipocrisia – e mostrem-se ofendidos porque o Presidente da República falou palavrão.
Podem ficar com o mundo para vocês. Não o quero. Não faço a menor questão de circular entre vocês. Para dizer a verdade, fico muito mais feliz quando estou fora dele. Não se esqueçam de pedirem desculpas por serem homens, brancos, ricos. Não se esqueçam de exaltar a cor da pele ou o gênero como se tais características acrescentassem algo de útil ao seu perfil ou personalidade. Deixem em segundo lugar as coisas menos importantes, como o caráter, a honestidade, a força de vontade, a capacidade, o esforço pessoal e a educação. Quem precisa disso nos dias de hoje? Coisas totalmente supérfluas, caretas, misóginas e fascistas!
De verdade, fiquem com essa merda de mundo para vocês. Vocês venceram, são os melhores, os donos da verdade, os criadores e influenciadores de opiniões, os reis da sabedoria e da empatia, os bem-informados, cultos, descolados, que salvarão não apenas o mundo, mas também todas as girafas da Amazônia.