VENENOSA
Coberta por um véu de santidade, ela cantava à Nossa Senhora, a voz embargada de emoção e os olhos marejados de bondade. A voz saía estudadamente lenta, macia, chorosa, tentando penetrar nas almas de seus ouvintes e comovê-los às lágrimas - o que ela conseguia.
Também gostava de cantar o Hino Nacional, dando a ele uma exagerada interpretação falsamente patriótica (se a tivessem pago para cantar em homenagem ao diabo ela teria dedicado a mesma emoção, pois o que importa, é o dinheiro). A bandeira desfraldada contra o azul do céu por trás de sua imagem, enquanto ela cantava, emprestava ainda mais emoção à cena.
Recentemente, ela declarou em alto e bom tom, sob o aplauso dos insensatos teleguiados e manipulados pela mídia dos ofendidos que tiveram suas verbas imorais cortadas, o quanto gostaria de servir comida envenenada a outro ser humano. E não importaria a qual o ser humano ela estivesse se referindo, Nossa Senhora se encolheria e esconderia o rosto sob o véu da mesma forma. A língua bipartida daquela que se julga uma grande artista merecedora de financiamento do governo rasgou a bandeira verde e amarela e também o véu da santa.
Bastou que as tetas que a sustentavam secassem, e a máscara de bondade santa e patriótica se quebrou, fazendo com que ela vertesse pelas suas próprias tetas o veneno que guardava dentro do peito.