FUTILIDADE
Às vezes
O ressentimento
Vem de um espelho invertido
Onde alguém se mira
E enxerga outro rosto
Que nunca foi
Ou jamais será
Seu próprio rosto
(E eles sabem disso).
É abominável,
E incompreensível
Que um mero sorriso
Possa erguer no outro
Altas labaredas,
Ígneas paredes
De puro desgosto.
Há mentes que se contorcem
Diante de tudo que é belo:
Diante do véu de seda,
Do brilho da pequena estrela,
Do lago silencioso,
Do olhar de paz e torpor,
Ou da voz despretenciosa
De um mero trovador.
E a cada dia, aumentam
As distâncias ressentidas,
Pois a dor de querer ser
O que não se pode na vida,
É voraz, insuportável,
Tanto para quem deseja
Quanto para o objeto
Que é sempre desejado.