NÃO SOU DAQUI
Eu às vezes sinto que não sou daqui,
Mas também não sou mais de onde eu vim.
Perdi por lá um lugar que já não tinha,
E aqui não encontrei o lugar que eu queria,
Embora ele possa ser tão bonito.
Parece que sou alguém alienígena
Que à noite vasculha o céu infinito
Em busca de um planeta que não mais existe,
A cabeça entre galáxias e nebulosas,
Os pés pisoteando um jardim de rosas.
Eu sinto como se eu fosse a espuma do mar,
Que quebra na praia, sem alternativas,
Se desmanchando sempre entre esta e outras vidas,
Sem conhecer os peixes, as algas, os rios,
As marés que me enchem e que me esvaziam.
Eu olho o pôr do sol, e as cores avermelhadas
Que se desenham no horizonte, me fazem pensar
Sobre outras estradas.
Não sei de onde vim, não sei mais de mim,
E se houve algum momento em que eu me senti parte
Da vida comum, em que toda a gente existe,
Já faz tanto tempo, que eu perdi a arte
De de ser simplesmente alegre, ou de ser, finalmente,
Triste.